terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Não-lugar

Se você escreve, desenha ou tem alguma arte que "cabe no papel", então vamos fazer juntos o Sobrenome Liberdade. 
Aqui você é livre para mostrar suas ideias e colaborar com a construção de um mundo mais plural, mais bonito.
A 2ª edição do fanzine está aberta para a sua participação. Envie o seu material até o dia 25/02 para: contatolevante@bol.com.br e mude de sobrenome!
Aqui, no não-lugar, não ocupamos espaço definido, somos tudo e nada (na maioria das vezes, nem somos).
Possibilidades duvidosas se apresentam na superfície desta tela, onde podemos trocar ideias, nos esconder ou mostrar a cara e dizer a que viemos. Não se deixe anular!
Inspire-se na 1ª edição: Levante Cult.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Grafite, coletividade e outras utopias

O grafite está tão presente nas grandes cidades que até parece que ele já nasceu assim, com esse ar moderno, cool e urbano. Mas não se deixe enganar pela marra e tatuagens transadas de alguns pichadores que circulam por aí pagando de "eu sou terrível". Perto dos pompeenses, o povo antigo que mais fez uso do grafite, eles parecem membros de uma boy band qualquer.
"Lerás, muitas vezes, em todas as paredes e em todas as colunas, muitos grafites escritos por muitas pessoas." Assim foi descrita a intensidade e a frequência do grafitismo em Pompéia, cujas paredes registram cerca de uma inscrição por adulto, homens e mulheres, livres e escravos, representados em dez mil inscrições. Basicamente como nos dias atuais, embora numerosíssimas, estas manifestações eram constantemente apagadas pelos dealbatores (literalmente: "que tornam a parede branca") que liberavam os muros... para novas inscrições!
A maioria dos grafites era feita no anonimato, isso quebrava a hegemonia dos meios de comunicação social por parte das elites e impossibilitava qualquer forma de censura ou limitação. Em outras palavras, o povo exercia uma ampla liberdade de expressão, algo completamente desconhecido das sociedades contemporâneas. Este caráter público do grafite possui traços únicos no contexto da criação cultural popular.
(Flávia Barros - 2 + 2)
A obtenção do graphium (ponta com que se escrevia em superfícies duras traçando um sulco) era fácil, mas este material permitia apenas a elaboração de pequenas inscrições, ao passo que as inscrições pintadas (tituli picti), eram, na maior parte, feitas por grafiteiros remunerados.
O grafitismo de Pompéia também é caracterizado pela construção de trabalhos coletivos: obras que eram constantemente modificadas, ganhando novas formas e significados através da intervenção dos transeuntes. Tudo isso para retratar a vida real, os combates entre gladiadores, suas necessidades imediatas, paixões e desafetos.
Arte é sempre uma conexão com o infinito, com algo que vai além da nossa existência fugaz. Talvez isso sirva um pouco para explicar toda a volúpia daquele povo em querer registrar suas vidas nas paredes, em insistir em fazer parte de algo maior. Através do grafite, eles ousaram transformar os muros que os prendiam em uma imensa tela, um céu pintado a mão, com todas as cores e traços do universo. Se deram conta de que todas as prisões, grades e muros escondem uma certa porta, uma gigantesca passagem para a liberdade, porque às vezes não é preciso destruir as barreiras para seguir adiante, basta ter imaginação e coragem para usá-las a nosso favor.

* Publicado em: Megalozebu e Acajutiba News.
**Texto de referência: Cultura Popular na Antiguidade Clássica, de Pedro Paulo Funari.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

SOBRENOME LIBERDADE

Lançamos ontem (15/01) a primeira edição do Fanzine Sobrenome Liberdade, um trabalho coletivo que reúne poesia, crônicas, entrevistas, dicas culturais e ilustrações fantásticas.
Por ora, a publicação será apenas virtual, mas a intenção é conseguir patrocínio que possibilite colocá-la no papel e distribui-la gratuitamente para todo o país.
A publicação já tem formato de uma revista tradicional, mas o seu design ganha beleza e autenticidade graças, principalmente, ao excelente trabalho de diagramação que criou uma harmonia perfeita entre os textos e os trabalhos gráficos.
Essa é uma iniciativa independente, sem o incentivo de qualquer verba pública ou privada. Portanto,
acesse SOBRENOME LIBERDADE, envie o link para os seus amigos e ajude a espalhar geral.
Conto com o seu apoio para levar essa grande empreitada adiante.
Mundo livre, vamos nessa!!

EDITORIAL

Antes de ser um manifesto,
Eu sou um convite de despedida de solteiro.
Nem muito duro, nem besta,
Sou uma gangorra no topo do Everest.

Sou o que não pode ser dito nos formulários;
Tudo que não cabe nas marmitas de luxo,
Nem nas  vitrines de ilusões.

Antes de afirmar qualquer coisa,
Eu sou caos e negação;
Recusa de ser tão igual aos outros
A ponto de ser ninguém.

Sou um sonho às 14:00hs de uma segunda quente,
Com bebidas geladas, amores-perfeitos, alegrias sem tamanho
E outros artefatos perigosos e feitos para sorrir.

Antes de ser um movimento,
Eu sou paixão, coragem e mil ideias loucas.
Eu sou o Levante

Seja bem-vindo!


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Epifania

Para alguns a virada de ano é o começo de um novo ciclo, uma fase de transformações e micro revoluções pessoais. Para a maioria, na prática, trata-se apenas da mudança do último dígito no calendário e o início de uma nova série de expectativas e projeções.
O ano acaba e vem aquele sentimento coletivo de fazer restrospectivas, pesar os fracassos e sucessos dos 12 meses que se passaram. Enfim, no geral é bem isso.

Mas a notícia da morte do jornalista e escritor Daniel Piza no dia 31/12/2011 me pegou de cheio (veja Viva Piza) e me fez rever seriamente as minhas escolhas, prioridades, vida e carreira.
Eu ainda era uma criança quando me deparei com a velha dama de preta pela primeira vez. Fiquei espantado, curioso e decepcionado quando vi o primeiro defunto com o nariz cheio de algodão... Sei que o choque e as impressões deste encontro tiveram grande influência na construção da minha personalidade e na sobrevivência de alguns dos meus piores traumas (veja Funeral dos deuses).
Bem, você deve está se perguntando o que a morte tem a ver com o ano novo, né?
Talvez pareça fúnebre e demasiado melancólico, mas o meu maior rito de passagem sempre foi a morte alheia. Enquanto para a maioria o dia 01 de janeiro represente o começo de uma nova era, para mim, a presença da morte sempre foi o meu soco no estômago, meu despertar para a reflexão e tomada de atitude.
O fim prematuro e trágico de Piza (morreu aos 41 anos, de AVC, nos braços do seu pai) reanimou o meu cagaço mais antigo. Me lembro agora de quando escutei o som da Nação Zumbi pela primeira vez e só então soube que Chico Science já tinha morrido... Renato Russo, Cazuza, Cássia Eller e Hendrix também são alguns exemplos de artistas geniais que eu só conheci a obra quando os criadores tinham passado a catraca.

Nesse momento os palavras de Herbert Viana chegam à minha cabeça como uma tijolada: "às vezes eu tenho medo de passar pela vida e não fazer tudo que eu queria, sabe?" Sim Herbert, eu sei!
Os neurocientistas dizem que gastamos 90% das nossas vidas apenas especulando, flertando se faremos algo ou não. Os outros 10% é ação, é o tempo que passamos na tentativa, na busca efetiva por algo. Penso nisso quando vejo a morte levando alguém jovem mas que já mostrou tanto, já realizou tantas coisas bonitas e grandiosas. Penso em tudo que aquela pessoa ainda poderia viver, realizar, sonhar. Admiro a pressa, a gula que alguns têm de viver tudo ao mesmo tempo, como se o seu relógio fosse mais rápido que o dos outros, como se o seu coração batesse num ritmo tão veloz que o seu peito não pudesse suporta a inércia desse mundo. E aí fico imaginando que essa pessoa conseguiu usar muito mais que os seus 10%, ela tomou a sua porção da vida em goles tão grandes que talvez o seu corpo não pudesse suportar...
Mas este não pode ser um texto triste (veja Crônicas de um tempo sem futuro). Para mim, 2011 foi um ano de muita correria, perrengues mil, mas foi também o ano mais feliz da minha vida (e isso não é pouca coisa). Aprendi muito com as quedas e frustrações deste ano e sou até grato por tê-las enfrentado.
Sabe, Flora continua crescendo com muita saúde e numa velocidade que meus olhos não conseguem acompanhar. Depois de tanto esforço, consegui bancar o Tratado, meu primeiro livro, que tem rendido ótimas críticas. Estou feliz porque cada dia conheço mais aliados que acreditam nos mesmos ideais e estão dispostos a lutar por um mundo mais livre, com mais beleza, arte e confiança nas pessoas.
Estou concluindo o último capítulo do romance A Revolução dos feios, um dos maiores desafios que já topei. Nos próximos dias haverá o lançamento do Sobrenome Liberdade, um fanzine coletivo que vai tratar de Arte, dança, literatura e tudo mais que interessar. Esse projeto tem me roubado o sono, mas estou contente por ter conseguido juntar tanta gente boa, talentosa e com sangue nos olhos para fazer acontecer. Tudo isso tem me dado ânimo e coragem para seguir em frente, correndo atrás de horizontes ainda mais bonitos.
Escute, a vida não é fácil para ninguém e não pense que a sua é pior ou melhor do que a dos outros, porque cada um tem o que merece, de verdade. Se você não correr atrás, ninguém irá bater na sua porta para lhe dá uma chance ou dizer que você é o melhor. Então, se quer que 2012 seja um ano feliz, se jogue, vá à luta!
Hoje a vida lhe permitiu mais uma chance, faça dela o que achar melhor. Só não seja escroto com quem quer o seu bem, não seja desleal com quem acredita em você nem fuja dos compromissos que assumiu. Faça quantos amigos for capaz, mas nunca se esqueça daqueles que estiveram do seu lado nos bons e maus momentos.
Aceite que estes são tempos de luta, de trampo mesmo. Não haverá trégua nem descanso até que você tenha dito a que veio. Não importa que ainda não saiba o que quer ou que não consiga compreender a razão da vida, pois se você tem a capacidade de se inquietar e de sentir que o mundo pode ser um lugar melhor, então, você tem algo a mostrar. Descubra a sua linguagem e declare guerra. Ou não.
Esqueça a Coca-cola e assista:

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tristes contrastes

"Aqui, se plantando, tudo dá!" Quem dera as coisas fossem tão simples como este clichê nacional sugere. O quarto maior país em extensão territorial se transformou num imenso estaleiro de segregação, hipocrisia e intolerância. Uma nação construída a partir da miscigenação étnica, ironicamente, é uma baía de racismo e de preconceitos camuflados nas entrelinhas de discursos polidos e bem intencionados. Crimes hediondos são cometidos e julgados sob a proteção da herança maldita do escravismo.
(Flávia Barros - Nação)
Praias, serrado, pantanal, florestas, enfim, o Brasil é com certeza um país abençoado por Deus. Mas e daí? Na maioria das vezes são os "gringos" quem aproveitam tudo isso. Eles chegam aqui curiosos e afoitos para conhecer e desfrutar de nossa música, iguarias culinárias, crianças, entre outras riquezas naturais. A beleza e a fartura de recursos naturais se tornaram eficientes desculpas para alimentar a inércia e o raquitismo intelectual do povo brasileiro. Tudo é lindo. Tudo vai bem. Se não vai, paciência! É a vida!
O conformismo é sustentado por "Sociedades Anônimas" que exibem propagandas de um lugar fantástico, perfeito para ser feliz, ao passo que ignoram a engrenagem estabelecida de um legado de corrupção política, péssima distribuição de renda, políticas públicas desleais e um estado de "pão e circo" revoltante. Ora, é preciso agir. Deixar este saudosismo romântico e imbecil que nos aprisiona a um ideal de pátria imaculada e perfeita por si só. Faz-se imprescindível a interferência consciente da população sobre as decisões que regem o seu próprio destino. A partir daí teremos a exata noção de como somos afortunados em viver em um país verdadeiramente rico e abençoado.
Cada um de nós tem a responsabilidade inerente de zelar pelo patrimônio do nosso país e assegurar que as próximas gerações conheçam e tenham condições de desfrutar de tudo que temos. As riquezas podem até ser naturais, mas não são eternas e cada vez são menos nossas*.

- Escrevi este texto em outubro de 2008 enquanto cursava o último semestre de Letras. Encontrei-o no meio de vários rascunhos e anotações daquela época que me fizeram relembrar do entusiasmo ingênuo e apaixonado da juventude, das discussões acadêmicas sobre utopias e outras maravilhas.
Após me rever nestas palavras, consigo encontrar uma  dose de equívoco nas convicções de outrora, mas também vejo que é necessário manter viva toda fé e amor que o coração puder suportar. Entendo que para ser feliz é preciso conservar uma certa porção de ingenuidade em nosso espírito. Cada dia eu me convenço mais de que a nossa verdadeira força está na comunhão, no respeito e na união de ideias e valores diferentes.

* Texto também publicado em: Acajutiba News - Nivaldo Brito.

Nuvens - A felicidade mora numa encruzilhada