quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Tratado no Sarau LiteraRua

Próxima sexta-feira, dia 13/07, haverá o lançamento do Tratado no sarau LiteraRua.O avento contará com apresentações de "rappers", músicos, grafiteiros, poetas e educadores.
E então, vamos juntos?
Segue o endereço:
Rua Francisco da Cruz Mellão 27, altura do 1001 da Estrada do Campo Limo, Horto do Ypê, no CDC Jardim São Januário

domingo, 8 de julho de 2012

As coisas que perdemos para o fogo

Nosso amor deu lugar a um funeral,
que virou um piquenique no fim da madrugada
embaixo de um pé de lembrança
que se fez duro e saudável
ao dar luz a um jardim na capital de minha mãe,
de onde correu a história
de um sorvete vingativo
que lambia a gente
toda vez que era mordido.

Nosso amor deu lugar a um banco vazio,
que testemunhou uma ressaca sem razão
deixando na carne um  gosto tão acre
que não coube na língua do mundo dizer;
quando os passeios deixaram de ser viagens
e não tivemos mais ritos de passagem para cumprir,
nossa história virou a lenda de um zoológico,
onde os animais estimavam os humanos
e, às vezes, só cobravam 10 centavos por foto.
Nosso amor deu lugar a um tratado sobre o coração,
que virou uma banda de jazz disfarçada de livro,
poema da esperança de 300 e tantos malditos não identificados,
manifesto recitado pelos meus manos e um tal bispo,
que coberto por legítima armadura poética,
atravessou a cidade todo cheio de vida, luz e rosas
para invocar nossos heróis em porões,
quintais, ruas, escolas e saraus:
redutos dos santos cidadãos comuns.

Nosso amor deu lugar a quatro mãos no bolso,
e perdeu a beleza que a distância havia lhe emprestado
ao beijar a boca daqueles perigos feitos para gozar;
sem a proteção do seu cuidado,
[que nunca mais será (só) meu]
nossos desencontros ganharam uma lógica
que só quem saiu por último pôde ver.


Quando resgatamos as coisas que perdemos para o fogo,
depois que o tempo digeriu nossa 1ª morte
e choramos a mesma dor
por sentimentos distintos,
[para espanto geral]
nosso “era uma vez” deu lugar a um “volte sempre”
e o nosso amor virou uma história feliz.

sábado, 7 de julho de 2012

Muito mais que um livro

A última quarta-feira foi um dia digno de nota. De tudo que aconteceu naquela noite, não esquecerei o apoio e carinho dos camaradas Cooperiféricos, nem a presença de velhos e novos amigos que ignoraram a final da Libertadores e fizeram questão de prestigiar o lançamento da 2ª edição do meu livro e o sarau.
Preciso dizer que essa conquista significou muito pra mim, e que foi importante contar com amigos tão estimados por perto. Também sei que houve aqueles que não puderam comparecer, mas nem por isso deixaram de enviar boas energias e torcer para que tudo desse certo. Estar perto não é físico, mesmo.
Quando a Flora crescer mais um pouco, quero contar sobre estes dias pra ela, direi que tive (e espero sempre ter) pessoas admiráveis ao meu lado.
Essa conquista só foi possível porque ainda existem pessoas verdadeiras, que acreditam no poder da cultura e conseguem enxergar o valor da arte independente. 
Todos que adquiriram o meu livro fazem parte dessa vitória. E é bom que saibam que as páginas do Tratado escondem muito mais que um sonho meu. Elas estão carregadas com as expressões de artistas imprescindíveis e suas perspectivas bonitas e valiosas.
No fundo, o Tratado não é um livro só meu. Ele pertence a cada um que ajudou a compô-lo, quem o leu e foi capaz de compreender a sua essência. A arte só é uma virtude quando é generosa, quando permite dividir-se. Por isso o Tratado é nosso.
Sabe, tem muita coisa acontecendo em minha vida nesse momento. Estou realizando sonhos que eu nem ousava revelar, conhecendo heróis e caminhando com eles. Mas não me deixo deslumbrar, continuarei batalhando por dias ainda melhores para mim e todos aqueles que estão comigo.
Muito obrigado, de coração!












terça-feira, 3 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

Deixe Explodir

Antes do ecletismo virar regra, o gosto musical dizia muito sobre a personalidade de um sujeito, servia como código de comportamento e ditava a postura de determinados grupos. Música era identidade, espécie de passaporte para circulação entre zonas e tribos. Mas como a massificação é uma linda meretriz sifílica no cio... A indústria do consumo simplificou as ideologias bastardas, resumiu a estética da rebeldia a uma camiseta estampada e ao ‘jeans que já vem rasgado de fábrica’. “Resumo” tornou-se a palavra de ordem destes dias. Mesmo assim, uma lista de música continua sendo o mais honesto curriculum vitae que se pode construir. Ou não.
O “rock” tornou-se mais uma daquelas palavras velhas e ridiculamente audaciosas. Embora viva ameaçado de perder seu sentido original e, a um passo de tornar-se mais uma expressão artificialmente produzida, como tem acontecido com AMOR, LIBERDADE, JUSTIÇA... O excesso de uso (indevido) vai desgastando, confundindo a essência da vida até deixá-la oca, sem cor, sem coração. A vida está sempre em xeque.
Mas pera lá, esse texto também é um resumo. É sobre um concerto, um verdadeiro show de rock´n roll. Vamos ao recheio!
Eu não disponho da combinação paciência-tempo-grana-fígado para ir aos shows que gostaria. Ainda assim, dia desses me permiti essa façanha. Naquela tarde de domingo, que tinha tudo para ser só mais uma despedida do final de semana, testemunhei algo raro, daqueles momentos dignos de serem contados. O show era grátis, mas fez valer cada segundo, cada pulsação.
Você pode imaginar o tamanho da desonra e do alívio de um boxeador nocauteado?
Consegue imaginar o êxtase e o desespero que se passa no coração de uma águia ao conquistar o seu primeiro vôo?
(Couro Cabeludo Rock)
É capaz de enxergar a beleza e o horror que se esconde no desenho que uma folha grava no céu ao se desprender do topo da árvore?
Pois bem, o som da Couro Cabeludo Rock é assim, tão sublime, extremo, contraditório e necessário tanto quanto tudo isso. Para sentir essa energia bastam dois ouvidos que funcionem. Mas para compreendê-lo, você vai precisar de um coração indomável.
Bandas como Ramones, Nação Zumbi, Runaways e tantas outras já tocaram de graça em bares sujos e para um público que dava para contar nos dedos da mão esquerda do Lula. Portanto, não há vergonha alguma em dizer que o show passou longe de estar lotado.
O anfiteatro daquele pequeno ginásio não era o melhor lugar para um show de rock, mas Adilson Martins (vocal) fez com que aquilo parecesse um estádio. Munido de letras agressivas e timbre potente, ele ocupou cada polegada do palco e transitou entre a galera com uma elegância que só os loucos sabem ter. Sua performance fez lembrar uma mistura da vitalidade de Mick Jagger com a insanidade na medida certa de David Johansen. Um genuíno rocker, um performático macho (se é que isso é possível).
Lero Adlung (bateria) foi várias vezes da velocidade cruzeiro ao compasso de um corcel americano para criar um groove excitante. Paulo SS e Bruno Oliveira (guitarra e baixo, respectivamente) exibiram uma sintonia difícil de ser alcançada, fazendo crer que sempre tocaram juntos (e bem). Em determinado momento, o blues rolava tão solto e natural que pensei ter ouvido ao fundo o sax de Coltrane num dueto com Thelonious Monk. Era a volta às raízes: rock, jazz, blues... Música!
Meus anjos abraçaram os demônios que se escondem no meu corpo e dançaram juntos. Sóbrio, com amigos sinceros ao meu lado, eu estava acima de tudo. Não havia exorcismo. Não existia o bem nem o mal. Havia apenas a música. Como é raro acontecer, naquela tarde meu espírito se tornou uma unidade pacífica. Tudo foi aceito, tudo coube bem. E eu fui um cara livre, nem feliz nem maldito.
Pensando bem, artistas revolucionários nos instigam a lutar. Artistas geniais nos motivam a fazer arte. Mas os artistas realmente necessários são os que nos inspiram a viver além dos sonhos.
Não tenho dúvidas, a Couro Cabeludo pertence a esse último tipo. Um mano já disse que quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo, então deixe explodir. Coragem!
Para sair do lugar, ouça Couro Cabeludo.