segunda-feira, 29 de junho de 2015

Desamarrando cadarços e umbigos

Hoje faz exatamente 2 anos que abri mão de um emprego estável numa grande seguradora para tentar viver das coisas que acredito.
Não ganhava muito, mas é quase o dobro do que recebo hoje dando aula e revisando textos.
Mudanças mil: redução de gastos, outros hábitos... No entanto, ganhei mais tempo pra mim e para estar perto de quem amo. Ganhei minha alma de volta. Às segundas, por exemplo, é sagrado ver e brincar com a Flora antes dela ir à escola. Visitar (amiúde) o Bento ainda é uma missão difícil...
Naquele dia, quando saí da Allianz Seguros, não tinha um plano B, não tinha grana na poupança... Eu tinha a certeza que não tornaria a vender meu sangue e suor (que são a mesma coisa, afinal) para instituições que não boto fé.
A vida é curta ( todo mundo sabe). E tenho um sentimento que vou morrer antes dos 30. Sei lá. Trago um medo de passar pela vida sem conhecer as pessoas que amo. Ou de que elas não se dêem conta de que são os verbos da minha história. Não sou bem um cara exemplar, mas tô tentando ser alguém digno das pessoas que cultivo.
Vida, gratidão por ter me permitido chegar até aqui.


domingo, 7 de junho de 2015

Anemia

Domingo é dia de visita. Não de ficar. Aos domingos a gente não liga ou marca encontro com qualquer pessoa. Existe um pacto silencioso de intimidade absoluta nesse dia.
Domingo é uma ocasião sagrada, que renova a poeira e uma solidão desgraçada de vulgar.
Domingo é gangorra de um banco só.
Religiões provando o contrário.
Domingo é convite sem destinatário.
Roda gigante sem eixo.
Paradoxo de si mesmo.
às vezes o domingo não passa de jeito nenhum. Fica passeando a semana toda em tudo que nos falta.
Ressaca mista de água benta e ácido na veia do mamilo superior.
Peso ancestral remodelando os ossos.
Precisão de seis noites com 24h de madrugada na porta da frente. 
Domingo tem cara de fim de ano: a vida fecha pra balanço, considerações gastas, encontros funcionais, remorsos planejados e comidas demodês.
Domingo é... Dane-se! 
A visita acabou. Ninguém nunca fica.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sem etiqueta rascunho

Quando o povo descobrir o poder que tem
Toda mulher e homem será rainha e rei.

*
Pugilistas, Poetas, Passarinhos...
morrem quando domesticados.
Há espécies cuja existência depende da insubordinação.

*
quero guardar a lembrança única
daquele instante antes da fotografia
quando éramos todos rascunhos de imagem
e olhos abertos.

quero guardar a lembrança exclusiva
daquele segundo quando nos conhecemos
quando éramos todos experientes e virgens
de dormir ao mesmo tempo.
quero guardar a lembrança daquela canção sem jabá
que tocava (quase) apenas nos nossos fones
quando éramos todos consumo sem serasa nem spc
nem cobrança de "me liga quando chegar"

dois segundos

Sem fim continua
essa vontade minha
que é só tua.
Sem acabamento permanece 
esse querer enorme
e que só cresce.
E
Não tarde
Que as madrugadas têm forma de infinito
Sem você pra reviver.



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Cobertor para peixes

Tanto café da manhã sozinho
deixou meu coração encardido
vazio
Tantos embarques para destinos desconhecidos
viciaram meus olhos nas nuvens
minha alma no porão
dores em silêncio
[Pera...
Pugilista virgem assalta maternidade rural
Coiotes estampam o novo uniforme da onu
e
todos esses absurdos decorativos me fazem botar fé
que a vida é toda por um fio
e que estamos jogando fora esse nosso último hoje]
Desculpe não saber falar de amor como seu rock star predileto.
Da próxima vez
venha antes que o poema seque.
Educar é fazer as perguntas certas
para quem nunca teve qualquer certeza.
Com quem você está agora?
Um rio anônimo de peixes
Uma mão incapaz de abrir-se
Uma nota 10 sem aluno
não são mais ímpares que meu coração sem teu peito.
Excessos de porres, erros, atrasos
desculpas, improvisos, agressões e tals
fizeram companhia à minha solidão
mais única
Quando tudo parecia afogado
foi dum carinho que veio o levante
palavrões de ordem sem bandeira
cúmplice, cartaz ou cócegas
- só de olhar eu soube sempre -
a gente é o que bem.