segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ: QUASE (um livro para crianças), 2015

"A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo." Com esta citação de Manoel de Barros, o modelo-menino de Poços de Caldas, Daniel Viana, inaugura uma obra toda costurada por metalinguagens, desenhos-montagens e fantasia.
As ilustrações de Lígia Yamaguti dialogam e expandem a poesia. Como se houvesse cor para o silêncio...
Páginas em branco convidam o leitor a "aumentar" o livro. Fazem crer que livro é para brincar, de fato.
Como em seus trabalhos anteriores (100 contos por 10 contos trocados e Baseado em Causos Reais), Danie abusa da concisão, de parágrafos miúdos e lapidados.
Livro pra ler de uma sentada (tem menos de 50 páginas) e caminhar léguas com ele no coração.
Deixo o primeiro parágrafo de Quase aqui:
"Se um dia eu escrever
um livro para crianças,
ele será colorido
e de capa Duda.
Terá mais imagens que palavras."

Procure saber mais e leia gente viva. Ou não.
Obs. Este é o Bote Fé, um projeto de mini resenhas de obras de autores vivos, que lançam livros nada convencionais.
Toda segunda-feira tem novidade na página: https://www.facebook.com/nibrisant/

Foto: Brisa de Souza

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para Brisa (2013)

(para Flávia Brito)
Prefiro você
a ser triste
pensei
nunca disse
mas escrevo.

Escrevo
e sou agora minha própria escrita
figura e linguagem
figura de linguagem
um velho pugilista
que sobe ao ringue com o pé quebrado
e na metade do primeiro assalto
depois da esquiva
um gancho e dois cruzados
preso às cordas
desacredita
– o único homem a ser desafiado.

Soul
o que sempre quis
dragão e lança
queda e dança
rei e réu
rio e rã
– Rá
retirante de mim.

Soul
método e desobediência
métodos de desobediência
um prisioneiro na solitária
que serra uma grade de aço por ano
e faz dum plano de fuga sua oração diária
coragem!
impulso que precede o passo
o salto
a rebelião.

Sua paz não é calma
sua paz não é ordem
é _ _ _ _ .

Soul
vício e devoção
um morto
que senta pra comer sua marmita simples
e ao abri-la
ao invés do arroz branco e puro de sempre
uma pedra
não sustenta
não dá forças
inspira.

Sem rodeios
rascunho
palavra e silêncio
palavra e _ _ _ _ _ _ _.

Na dúvida, sou um tal eu
sem pêsames nem parágrafos
sou para-quedas parapeitos
paradigmas para-lamas
parabéns paranoias
para-choques para-raios.

Para nada e para o que for preciso
sou para viagem e para brisa.

Entre o vazio de lábios e olhares perdidos
sinto que hoje ainda vale a ida
mas se nossa história não couber nos livros
acabo aqui esse poema e vou pra lida.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cruzando o Atlântico

 A revista portuguesa InComunidade publicou uma série de textos meus na sua edição 38. Só tem bambas. Clique aqui e leia.
(Gabriel Woelke)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ultrapassagens

Estava apagando e-mails e botando o computador em ordem quando encontrei alguns textos perdidos. Vou postar alguns deles na íntegra aqui. Este é de janeiro de 2012:
Hoje é praticamente impossível falar de arte independente sem mencionar o papel da internet, seja como ferramenta de produção ou divulgação.
Todo escritor quer ser lido, assim como todo músico quer que suas canções toquem no radio, quem faz cinema sonha em... Enfim, você já entendeu. De nada vale escrever os versos mais lindos do mundo e, por timidez, acomodação ou punhetagem mesmo, escondê-los no fundo da gaveta.
O narcisismo das redes sociais, a ligação entre artista e espectador é regida por velhas leis de mercado, como a da oferta e procura, da indústria da propaganda. Até aí nenhuma novidade.
O meio é tudo. Há léguas obscuras entre produzir e expor uma obra, conquistar um público e fazer sucesso. Sem cair na cilada da meritocracia, entre o “poder” e o “fazer” existe bem mais que as cinco máximas do jornalismo: o que, onde, como, quando, por que.
Estou cansado de ouvir pessoas que só sabem conjugar verbos no pretérito imperfeito: “se eu quisesse, poderia ter sido um jogador de futebol milionário”, “se eu quisesse, poderia ter ficado com aquela famosa”, e por aí vai. Não falta gente que se esconde nas promessas do “tem tudo para dar certo” e gasta o resto da vida se gabando do quase, que só não chegou lá porque não quis. Entre o “ter a faca e o queijo na mão” existe o movimento, o corte.
Indo contra a minha natureza de instintos retraídos, ultimamente tenho procurado grupos e seguido certas multidões. Tenho motivos de sobra para sempre ter desconfiado dos bandos e dos sujeitos que vivem (literalmente) de colecionar corações e arrebatar massas. Não é o ato de manipular e comover as pessoas em torno de um ideal - seja lá qual for - que me incomoda; me aflige os interesses, muitas vezes criminosos, que se escondem por trás de pastores vorazes em caçar ovelhas através de ideologias messiânicas demodês. Que fique explícito, não estou me referindo à questão religiosa, apenas.
Quando falo de coletividade sempre lembro de "Antes do Amanhecer", filme no qual ouvi uma das falas mais esclarecedoras sobre a relação homem/Deus, mas que também pode ser usada para entender o amor, a amizade, as Artes e tantas outras relações humanas. Foi algo como: "Deus não está em mim, nem em você; Ele só pode estar aqui, exatamente nesse espaço que existe entre a gente". Taí.
Claro que “o outro” não deve se tornar o único passaporte para a felicidade. Todos precisamos de um certo isolamento, de momentos de introspecção e isolamento (alguns em doses maiores que outros). Autonomia, independência e senso-crítico são virtudes.
Por melhor que alguém seja, a sua grandiosidade só poderá ser reconhecida e valorizada se houver um “outro” para apreciar ou mesmo competir. Além dos relacionamentos afetivos, esse processo também pode ser aplicado facilmente às Artes, ao ambiente corporativo e a todos os relacionamentos humanos. Ou não?
(Márcio Salata)


quarta-feira, 9 de setembro de 2015