O
perigo mora dentro
Universal e particular, Páginas envenenadas é o itinerário para uma jornada de extremos,
que dispensa passos óbvios e abusa de saltos mortais. Com sua poesia
exclamativa, Guilvan Miragaya apresenta um eu-lírico em constante rota de
colisão contra a inércia. Suas reflexões demonstram que não basta compreender o
mundo e a vida, é preciso não se submeter, não se alinhar, não.
Os sonhos deste poeta levantam a bandeira de uma pátria
em evolução, mas cuja identidade ainda é uma multidão em fuga, engenhosas peças
da vida que vão além de perdas e lutas.
A partir de um canto da realidade, Miragaya cria enredos
(aparentemente desconexos, mas sólidos) invocando figuras de sua saudosa
infância, repleta de animais fantásticos e sonhos de caminhadas sem despedidas.
Intacto, escondido em todas estas páginas, está o
sentimento mais elevado, aquele que não se detém no corpo. É preciso todo
coração para compreendê-lo como a grande maravilha.
Nem beira do lago, nem mar: Lágrimas da garoa.
Nem chuva, nem garoa: água.
Nem ausência, nem distância: poesia.
É assim, utilizando notas do cotidiano e bebendo na fonte
dos gigantes que o poeta humano circula por cenários improváveis, na tentativa
de romper a fronteira entre uma vida cinza e raios dourados.
Tudo é ocupação. Este livro é rico em referências, a
começar pelo título, que dialoga com O
nome da Rosa, do italiano Umberto
Eco.
Não é apenas um questionamento ao fim do dia. Páginas envenenadas é a coluna de um
homem insubordinado, amiúde subversivo. O registro de um sujeito que não se
contém nos atos, nem nas palavras.
Aqui está a alma de um homem em
movimento. Igual um oceano, não há como atravessar este livro impunemente. O
perigo mora dentro. A Liberdade
também.
Enquanto houver chão para ir, não
faltará céu para voar. Dê o primeiro passo.
Boa viagem!
- Ni Brisant
Nenhum comentário:
Postar um comentário