sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para Brisa (2013)

(para Flávia Brito)
Prefiro você
a ser triste
pensei
nunca disse
mas escrevo.

Escrevo
e sou agora minha própria escrita
figura e linguagem
figura de linguagem
um velho pugilista
que sobe ao ringue com o pé quebrado
e na metade do primeiro assalto
depois da esquiva
um gancho e dois cruzados
preso às cordas
desacredita
– o único homem a ser desafiado.

Soul
o que sempre quis
dragão e lança
queda e dança
rei e réu
rio e rã
– Rá
retirante de mim.

Soul
método e desobediência
métodos de desobediência
um prisioneiro na solitária
que serra uma grade de aço por ano
e faz dum plano de fuga sua oração diária
coragem!
impulso que precede o passo
o salto
a rebelião.

Sua paz não é calma
sua paz não é ordem
é _ _ _ _ .

Soul
vício e devoção
um morto
que senta pra comer sua marmita simples
e ao abri-la
ao invés do arroz branco e puro de sempre
uma pedra
não sustenta
não dá forças
inspira.

Sem rodeios
rascunho
palavra e silêncio
palavra e _ _ _ _ _ _ _.

Na dúvida, sou um tal eu
sem pêsames nem parágrafos
sou para-quedas parapeitos
paradigmas para-lamas
parabéns paranoias
para-choques para-raios.

Para nada e para o que for preciso
sou para viagem e para brisa.

Entre o vazio de lábios e olhares perdidos
sinto que hoje ainda vale a ida
mas se nossa história não couber nos livros
acabo aqui esse poema e vou pra lida.