quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ni por Lu'z*

Após serem lidas e devidamente digeridas suas frases giram em todo nosso corpo, nos livram da inércia e provoca-nos. Esse Ni que hoje salta em suas leituras, grita, silencia confunde-nos e atinge o  mais profundo que há em cada individuo, já se escondeu atrás de uma folha de sulfite que tremulava em suas mãos e voz quase inaudível, mas independente de como ele surja e se mostre a sinceridade e o amor chegam antes.
Por vezes, vejo-o bicho, como se o escrever lhe aparecesse como função  vital, escrita tão  única que suspeito que ele já tenha nascido com esse defeito e se que foi se aprimorando com outras leituras, que não  (só) a sua. Lê-lo é um misto de ser compreendido com uma tortura de sentir-se tolo, ser ele e o  todo sem ser ninguém é complexo, mas necessário e vital.
Do Nivaldo tenho recordações de uns 05 anos atrás onde todos eram Operadores de Telemarketing, mas ele era um sonhador. Gente que sonha pode ser reconhecida pelos olhos; ele evitava olhar, mas quando  o  fazia estava entregue e desarmado era evidente o  quanto o  mundo é pequeno para o seu  coração. Enquanto muitos ostentavam roupas da moda, ele desfilava com livros, chegava a usar três ou mais em uma única semana, juro que me intrigava quando ele os deixava com a capa voltada para baixo, parecia um jogo e eu sempre perdia.
Penso que hoje é ganho, saber sobre suas leituras e partilhar as minhas, trocar escritos, tê-lo perto é garantia de ser maior. 
Aos que o leem, torço para que o conheçam, pois ele possui lindas histórias, é aprendiz na vida, nos ensina verbos e mantras valorosos e ainda sabe plantar flores no coração e sugere caminhos para que você mesmo  a cultive.

*Texto da poetisa e amiga Lu'z Ribeiro dedicado a Ni Brisant pela ocasião do lançamento do livro Para brisa.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sem par em SP*

Perdedores voltam sozinhos para casa. Vencedores não voltam.
 Depois dum bom tempo fora, Daniel voltou para casa com um semblante que denunciava uma idade bem maior que a que realmente possuía. Sua mãe não o reconheceu quando viu através do olho-mágico, um sujeito cabeludo e magrelo parado em sua portacom óculos escuros e uma mochilabagagem insignificante se comparada a que ele havia levado quando se jogara no mundo. O modo como chegou não lembrava nenhum pouco a pressa e o barulho do dia em que saiu jurando nunca mais voltar.
Comeu mais do que gostaria,  para manter a boca ocupada e não ter que responder ao bombardeio de perguntas feitas no jantarTinha vivido coisas perigosas e divertidas, mas não teve coragem de mencionar nenhuma delas; e até se envergonhou ao constatar que as suas melhores histórias eram completamente impossíveis de serem contadas para quem lhe queria bem.
Embora toda a roupa que carregara estivesse sujasua irmã  deixou que pegasse uma de suas camisetas emprestadas depois que ele prometeu ceder o broche de tartaruga comprado dum camelô em Santo Amaro, um artefato que ele jurara ter ganhado de um amigo ator em San Francisco. Não trouxera boas lembrançasmas todos comemoraram seu retorno e tentaram esquecer o dia em que ele foi morar com uma cigana holandesa que havia conhecidolendo mãos no Ibirapuera.
Foi vestindo Ramones que, naquela noite fria e sem destino, Daniel cortou a Rua Augusta com as mãos no bolso de sua jaqueta menos preta, a mais usada. Tinha tomado umas e  estava legal quando desceu furando filas de emos e outros caras-sujas que engarrafavam as calçadas de pubs e puteiros. Interrompeu a caminhada para encostar-se ao balcão duma biroscaonde, de um trago, matou um agressivo destilado de cana e ficou mirando três garotas que flertavam entre si enquanto montavam todo um ritual para tomar uma dose de tequila fazendo caretas exageradas, típicas de iniciantes. Na porta do bardois caras davam seus lances num leilão por partes de bens de consumo sem amostra grátisaqueles cujas fachadas vermelhas dispensam placa de VENDE-SE. Pediu um drink ainda mais quente que o primeiro e desistiu de arriscar matar a sede em sobras de salivas tão disputadas como aquelas. Voltando para a rua quase tropeçou num andrógeno que vomitava os pulmões na calçadatal cena fez lembrar-se das vezes em que ia até o Centro  para se perder com os amigos.
“VIVENDO DO ÓCIOHOJE NO DIU”. Aquele cartaz com quatro roqueiros alados só podia ser uma pista de onde encontrar mulheres e outras boas distrações. Daniel entrou num café com ar de cova de ratosonde garotas com tatuagens e penteados que lembravam algo entre Amy Winehouse e Elza Soares, disputavam a linha de frente do palco e encomendavam palhetas e baquetas dos caras que passavam o som
menina de olhos de personagem de HQ japonês desencostou da parede depois dedar o terceiro fora consecutivo. Sentou-se ao lado do nosso anti-heróique pediu um refrigerante para ver melhorDepois de matar sua cerveja azulela olhou para o copo dele e fez uma piada qualquerEmbora  tivesse entendido “leite com chocolate”, ele riu, enquanto baixava a cabeça e lia “Sem par em SP” tatuado no  que alternava uma melissa preta e branca. O assunto rendeu e ela quase se rachou de rir quando ele admitiu queassim como aquela sua cicatriz no queixo, a camiseta e os brincos também eram culpa de sua irmã Lela.
Utilizando a velha técnica das historinhas tristesnão demorou a descobrir que Valéria gostava de meninas tanto quanto eleembora não se importasse em experimentar lábios masculinosconforme ficara provado quando trocaram telefones e carinhos sob um som nem sempre tão normalMas o sol não chegou a tempo de flagrar o instante em que se despediram, completando frases um do outro e andando olhando para trás enquanto davam tchau.
caminho de casa, Daniel encontrou um brinco no bolso de sua jaqueta embrulhado num bilhete que queria saber: “Dani, vai me deixar sem par?” Ele riu e jogou aquilo na lixeira mais próxima.
Alguns meses depois, Lela fez um almoço para apresentar sua nova namorada à família. Daniel reencontrou Valéria naquele dia.

*Texto pulicado no livro Tratado sobre o coração das coisas ditas e no site Literattus.
(Paulo SS)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Lançamento Oficial

(Capa por Mixel Nogueira)

Está chegando a hora!

Vamos celebrar o lançamento de Para brisa no Sarau Suburbano Convicto
Será uma noite muito especial.
Promoção: Quem trouxer um amigo, leva outro. 

Quando: 12/03 às 20h


Endereço: Livraria Suburbano Convicto

Rua 13 de Maio, 70 - 2o andar - Bixiga

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobrenome Liberdade - Revista Rebosteio e MISC*

Sara,
Ao invés do Aurélio, procure um sarau. E tu vai achar sentido de verdade quando encarar os arquitetos de sonhos – novinhos em folhas – em ação. Gente, que para provar a máxima de Leminski, inventou seu próprio estado de ser, uma segunda adolescência chamada movimento. Porque aos 17 anos todo mundo é poeta.
E pra sarau, não precisa convite nem senha. Toda palavra é mágica, mas o silêncio é uma prece.
(Fotografia: Renata Armelin)
Sarau é o trajeto que a palavra faz entre os lábios e o coração – diriam os românticos. Mas o contrário também pode ser.
Nada de novo no front: são palavras, são navalhas e eu sou apenas um rapaz latino americano, apoiado por mais de 50 mil manos. Sem aspas, entre amigos, poesia é dito popular. Pessoa é nóiz.
Lembra quando me disse que nem tudo cabe nos livros? Pois bem, no sarau cabe. Planos e viagens, paixões e pilantragens. Até poema de 10 segundos cabe. De vez em quando, suspeito que mesmo sua mania de solidão caberia lá.
Amiga, tu vai se encontrar vendo o Laudecir declamando. Ele é malandro, professor e poeta. Nunca escreveu uma rima, mas é, sobretudo, poeta. E ao contrário, também poderia ser.
Tem sarau pra todo mundo; sem se repetir. Alguns viraram grifes, mas a maior parte continua firme, com seus amores, protestos, revides e passos largos. Depois deles, nunca mais falei sozinho, sabia?
Sobrenome Liberdade. Um ritual com mais entidades que o panteão. Tivesse cobrança, seria igreja. Fosse mais longe, seria aqui em casa. E para garantir que é feito por palavras e pessoas livres, Grajaú.
Sara, vá.
Aliás, vamos! Porque sarau é lugar de chegar junto.

*Texto publicado na Revista Rebosteio nº 5 e MISC. Vale ir.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Da ideia para o papel

E eu, que sou um bahia, me senti o cara mais feliz quando meus amigos deram a força que faltava para a publicação de Para brisa, meu novo livro. Afinal, quantas pessoas podem dizer que fizeram um livro com a ajuda "real" dos camaradas?
Todos os 80 exemplares foram vendidos antecipadamente; mas sendo sincero, não pensei que teria tamanho sucesso quando lancei a proposta colaborativa. Fiquei emocionado ao ver que há quem acredite e está disposto a colaborar com minha arte. Agora, fazer um livro de qualidade é a maneira mais coerente de agradecer.

(Célio Luigi)
Para brisa reúne meus textos escritos durante os últimos três anos. O resultado é um livro enxuto e intenso; onde a poesia ora tem a precisão de um plano cartesiano ora a sinuosidade do vôo de um mosquito. 
A página de agradecimento contendo o nome de quem ajudou será, pra mim, uma lembrança destes dias, ocasião em que pude contar com o apoio dos parceiros para dar este passo tão importante em minha vida. Muito obrigado, de coração.
Conforme disse, as 15 primeiras pessoas a efetuarem o pagamento, receberão, junto com o livro, uma poesia exclusiva e escrita manualmente. Segue a relação dos contemplados:


Aline Oliveira de Souza
Andressa Costa dos Santos
Andreza Oliveira
Daniela da Silva Santos
Ge Ladera
Gerson Salvador
Guilvan Miragaya
Ismael Rojas
Luciana Lulikas
Lu’z Ribeiro
Patty Oliveira
Ruivo Lopes
Silvia Cristina
Tati Liroa
Vanessa da Silva Soares

Agora é da ideia para o papel. Dia 12 de março celebraremos o lançamento de Para brisa no Sarau Suburbano Convicto, localizado no bairro do Bixiga, São Paulo-SP. Até breve menos.

Coragem!

Ni Brisant
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