segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Boca da noite

Acerca do céu / Apenas anjos caídos têm opinião
Quando a solidão vira precipício
Mais antigo porto ainda é infância
Com mais páginas na cabeça / que nos cadernos
Tudo que li / Vivi

Como quem nina uma criança antes da guerra / escrevo:
O exército da poesia é formado por sete batalhões 
de passarinhos / invisíveis / que não se calarão

Todo poema é cópia perfeita de uma pessoa
Coração latindo uma balada sem disco
Quem escreve um poema / tatua na eternidade do papel a fração do que viveu, sonhou, sentiu e virá
Quem assovia uma canção / grava no firmamento dos ouvidos
rascunhos de vermelho-liberdade

Se palavra é coisa antiga
Minha canção é bem mais
Diante de labirintos, podem ser asas
No inverno mais sorvete, fogueira
Origamis de pedra, dança e estrela

Poemas são faíscas de infinitos
Na contradição de 2 olhos solitários
Espelhos domadores de egos

Se cartas de amor já fizeram mais mudanças / que manifestos
Quem escreve / entrega o original de si a outros
Hoje
Cartas de amor
Já não têm papel
Improvisos já não têm surpresa
Rimas já não lembram poesia

Então
Pretender tocar o coração de alguém / só com palavras
É querer atravessar o Saara / numa canoa
apenas com a ajuda do vento


Feito fera mirando presa / silêncio encara o poeta
Pensando devorar seu vazio / Trovador morde o silêncio
Neste país, paz não cabe em peito de passarinho
Como quem trama engolir, demora nas coisas / com olhos inéditos

Poeta é alguém que leu o coração do mundo / e não conseguiu guardar segredo


Escrever é gritar dentro d’água / 
amar, também