segunda-feira, 11 de abril de 2016

Para reticências

Perdoa este pequeno século, Mãe. Ele chegou agora aos 16, acha que é moda usar bandeira rasgada como jeans. Tem apetite de gente e utopias... este miserável. 
- Um bando de cavalos selvagens galopando na parte mais sombria de meu coração. Coices e relinchos destroem a derradeira costela de meus tímpanos. A poeira dos cascos se converte em larva de vulcão subindo pela garganta a 125 anos luz por segundo. Olhos são o iceberg desta implosão. E uma saída é nada para tanto fogo líquido. 
Abraços pedem força - mais uma vez. Sem saber ou se dar conta que sou sertão. Repare qu'eu já fui forte demais. Sabia não?
 E neste presente instante só quero me permitir escorrer, desabar, me entregar ao pranto que toma conta de todos meus ossos. Abraço é mãe de todos nós.
Mas a madrugada nos ensinou cedo demais a ser impermeáveis. 
Nem todos podem expressar sua histeria. Alguém precisa manter olhos altos e joelhos firmes. Sustentar a si e os demais - que transformam soluços em convulsões de pus, urros, solidão e flagelo como impotência. 
As portas se fecham feito sutura pós operatória. Contar os pontos é inútil. A cicatriz incomoda mais quando Invisível. Sem calmantes ou analgésicos. Só acredito sentindo - mesmo.
Sem resignação. Sem culpa nem revolta. Sinto o que sente um animal preso numa esfera vedada, que teima diariamente em tentar escapar. Ideia da morte é conta-gotas. E as nuvens me ensinaram a ser mais chave que porta. 
Mãe me ensinou a não me afasto demais do coração. Mas eu acabo de abrir a porta de casa e penso que não tenho mais para onde voltar. Pego a caneta e só consigo uma palavra.
 'Mãe, Saudações sem fim.' Começavam assim todas as cartas que lhe escrevia. E eu ainda não sabia que seriam eternas, de fato.
Os cavalos (agora mais selvagens) se multiplicam e avançam. Não quero mais detê-los. Não posso mais.
Perdoa este século miúdo, Mãe. Eu não vou esquecer.