Estava apagando e-mails e botando o computador em ordem quando encontrei alguns textos perdidos. Vou postar alguns deles na íntegra aqui. Este é de janeiro de 2012:
Hoje é praticamente impossível falar de arte
independente sem mencionar o papel da internet, seja como ferramenta de
produção ou divulgação.
Todo escritor quer ser lido, assim como todo músico quer que suas
canções toquem no radio, quem faz cinema sonha em... Enfim, você já entendeu.
De nada vale escrever os versos mais lindos do mundo e, por timidez, acomodação
ou punhetagem mesmo, escondê-los no fundo da gaveta.
O narcisismo das redes sociais, a
ligação entre artista e espectador é regida por velhas leis de mercado, como a
da oferta e procura, da indústria da propaganda. Até aí nenhuma novidade.
O meio é tudo. Há léguas obscuras entre produzir e expor uma obra, conquistar um público
e fazer sucesso. Sem cair na cilada da meritocracia, entre o “poder” e o
“fazer” existe bem mais que as cinco máximas do jornalismo: o que, onde, como, quando,
por que.
Estou cansado de ouvir pessoas que só sabem conjugar verbos no
pretérito imperfeito: “se eu quisesse, poderia ter sido um jogador de futebol
milionário”, “se eu quisesse, poderia ter ficado com aquela famosa”, e por aí
vai. Não falta gente que se esconde nas promessas do “tem tudo para dar certo” e
gasta o resto da vida se gabando do quase, que só não chegou lá porque não
quis. Entre o “ter a faca e o queijo na mão” existe o movimento, o
corte.
Indo contra a minha natureza de instintos retraídos, ultimamente tenho procurado grupos e seguido
certas multidões. Tenho motivos de sobra para sempre ter desconfiado dos bandos
e dos sujeitos que vivem (literalmente) de colecionar corações e arrebatar
massas. Não é o ato de manipular e comover as pessoas em torno de um ideal -
seja lá qual for - que me incomoda; me aflige os interesses, muitas vezes
criminosos, que se escondem por trás de pastores vorazes em caçar ovelhas
através de ideologias messiânicas demodês. Que fique explícito, não estou me
referindo à questão religiosa, apenas.
Quando falo de coletividade sempre lembro de
"Antes do Amanhecer", filme no qual ouvi uma
das falas mais esclarecedoras sobre a relação homem/Deus, mas que também pode
ser usada para entender o amor, a amizade, as Artes
e tantas outras relações humanas. Foi algo como: "Deus não está em
mim, nem em você; Ele só pode estar aqui, exatamente nesse espaço que existe entre
a gente". Taí.
Claro que “o outro” não deve se tornar o único passaporte para a
felicidade. Todos precisamos de um certo isolamento, de momentos de
introspecção e isolamento (alguns em doses maiores que outros). Autonomia,
independência e senso-crítico são virtudes.
Por melhor que alguém seja, a sua grandiosidade só
poderá ser reconhecida e valorizada se houver um “outro” para apreciar ou mesmo
competir. Além dos relacionamentos afetivos, esse processo também pode ser aplicado facilmente às Artes, ao ambiente corporativo e a
todos os relacionamentos humanos. Ou não?
(Márcio Salata) |