sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tristes contrastes

"Aqui, se plantando, tudo dá!" Quem dera as coisas fossem tão simples como este clichê nacional sugere. O quarto maior país em extensão territorial se transformou num imenso estaleiro de segregação, hipocrisia e intolerância. Uma nação construída a partir da miscigenação étnica, ironicamente, é uma baía de racismo e de preconceitos camuflados nas entrelinhas de discursos polidos e bem intencionados. Crimes hediondos são cometidos e julgados sob a proteção da herança maldita do escravismo.
(Flávia Barros - Nação)
Praias, serrado, pantanal, florestas, enfim, o Brasil é com certeza um país abençoado por Deus. Mas e daí? Na maioria das vezes são os "gringos" quem aproveitam tudo isso. Eles chegam aqui curiosos e afoitos para conhecer e desfrutar de nossa música, iguarias culinárias, crianças, entre outras riquezas naturais. A beleza e a fartura de recursos naturais se tornaram eficientes desculpas para alimentar a inércia e o raquitismo intelectual do povo brasileiro. Tudo é lindo. Tudo vai bem. Se não vai, paciência! É a vida!
O conformismo é sustentado por "Sociedades Anônimas" que exibem propagandas de um lugar fantástico, perfeito para ser feliz, ao passo que ignoram a engrenagem estabelecida de um legado de corrupção política, péssima distribuição de renda, políticas públicas desleais e um estado de "pão e circo" revoltante. Ora, é preciso agir. Deixar este saudosismo romântico e imbecil que nos aprisiona a um ideal de pátria imaculada e perfeita por si só. Faz-se imprescindível a interferência consciente da população sobre as decisões que regem o seu próprio destino. A partir daí teremos a exata noção de como somos afortunados em viver em um país verdadeiramente rico e abençoado.
Cada um de nós tem a responsabilidade inerente de zelar pelo patrimônio do nosso país e assegurar que as próximas gerações conheçam e tenham condições de desfrutar de tudo que temos. As riquezas podem até ser naturais, mas não são eternas e cada vez são menos nossas*.

- Escrevi este texto em outubro de 2008 enquanto cursava o último semestre de Letras. Encontrei-o no meio de vários rascunhos e anotações daquela época que me fizeram relembrar do entusiasmo ingênuo e apaixonado da juventude, das discussões acadêmicas sobre utopias e outras maravilhas.
Após me rever nestas palavras, consigo encontrar uma  dose de equívoco nas convicções de outrora, mas também vejo que é necessário manter viva toda fé e amor que o coração puder suportar. Entendo que para ser feliz é preciso conservar uma certa porção de ingenuidade em nosso espírito. Cada dia eu me convenço mais de que a nossa verdadeira força está na comunhão, no respeito e na união de ideias e valores diferentes.

* Texto também publicado em: Acajutiba News - Nivaldo Brito.

Nuvens - A felicidade mora numa encruzilhada

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Diário de bordo (dia 13)

Domingo, 13 de novembro de 2011. Antes que a chuva molhe a terra da garoa, a Casa Fora do Eixo se transforma numa locomotiva frenética de cultura, música e ideias perigosas. Não há expectativas. É tudo ao mesmo tempo agora!
O movimento orgânico e coletivo articulou no bairro da Liberdade uma incrível torre de Babel, provando que no coração de São Paulo circula o sangue do mundo inteiro.

Foi engraçado desfrutar de sotaques baianos, paulistas, noruegueses, cariocas, pernambucanos, canadenses, mineiros, cuiabanos... Tudo ali, junto, misturado, lindo!
O pré-lançamento do Tratado sobre o coração das coisas ditas foi, acima de tudo, uma ocasião para reunir os amigos, brindar à Arte e celebrar a vida.
Foi emocionante compartilhar esta conquista com pessoas tão queridas, gente que faz parte da minha história e fez todo esforço possível para prestigiar o evento. Bacana também fazer novos aliados, ouvir a opinião de leitores e conhecer ainda mais pessoas que acreditam no meu trabalho.
Os parceiros que não puderam comparecer também foram lembrados. Alguns participaram do processo de elaboração do livro e com certeza, embora não estivessem fisicamente ali, enviaram toda a positividade necessária para que tudo ocorresse da melhor maneira.


Para comprovar o sucesso do Tratado, basta dizer que mais de 50% dos exemplares foram vendidos logo na primeira semana. No entanto, a maior façanha deste projeto foi produzir um livro independente, com alta qualidade estética e material. Uma obra verdadeira, bonita, sensível e preocupada com a linguagem e as questões dos nossos dias.

Os problemas não dão trégua e as lutas são constantes. Gastamos tempo demais "batendo cartão", superando fracassos e enfrentando os perrengues que a vida nos impõe. Mas aí quando conquistamos algo pelo qual lutamos muito e temos um motivo para comemorar, então devemos fazê-lo... Este é o meu momento. E eu estou muito feliz por ter conseguido publicar este livro, de coração.
Chegar aqui foi mais difícil do que parece. Tenho a noção exata do que este livro representa. Este triunfo não é só meu. Sei o quanto minha família e meus amigos estão orgulhosos de mim. E eu sou muito grato por todo apoio e reconhecimento que tenho recebido. Não sou tão forte quanto pareço ser. Preciso que saibam que é muito importante tê-los ao meu lado. Juntos, iremos ainda mais longe. E vamos!

O dia 13 de novembro de 2011 foi um dia feliz. Vou sempre lembrar desta data com carinho. Mas este é apenas o começo. Não serei o escritor de um livro só. Nem vou me deixar corromper pela soberba ou pela arrogância típicas dos "vencedores". Eu sei quem sou, de onde saí e principalmente, eu sei que não estou sozinho.
Os dias difíceis voltarão, novas quedas se aproximam e terei batalhas ainda mais duras a travar. Mas não importa! A minha glória é o próprio combate. E eu não me rendo. Não me rendo não!

O Homem do Futuro - Tempo Perdido (Legião Urbana)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Crimes

(Erick Silva)
Não existe bom combate
quando o sangue de um puro ilustra o mal
e a vitória não significa paz, nem libertação.
 
Justiça e vingança são ilusões de ótica,
embora a morte se ache uma justa consequência,
a sina do vil matador já é estar cativo à sua própria alma
sempre que a consciência castigar o crime aniquilando a paz
e a boca mastigar convicções arrependidas e irreversíveis,
enchendo a carne de estigmas barbaramente sagrados.
 
Quando o silêncio de não ter nada a esconder
for confundido com o cinismo de segredos imundos,
nem a razão mais sincera justificará o extermínio de uma vida,
ainda que sob o argumento de consolar um erro igualmente mau.