terça-feira, 19 de junho de 2012

Quanto dura um blog

Na busca pelos 15 centésimos de fama, muitas pessoas que se autodenominam 'artistas', migraram dos blogs para redes mais populares e de fácil de digestão, como os canais de videos (You Tube) e redes sociais (Facebook e Twitter). Claro, as chances de virar uma celebridade virtual são infinitamente maiores para quem faz caretas e proclama 'bobagens espertinhas' na frente de uma câmera do que para quem posta seus próprios textos e vai esmiuçando suas ideias/paixões/misérias nessa página sem moldura. Aliás, existe alguma chance de sucesso para quem escreve num blog?
Além dos vários domínios 'improdutivos', venho observando a redução e a inatividade dos blogs autorais, ao passo que crescem e (repetem-se) as publicações destinadas a dar dicas e fazer listas. Sobram blogs com dicas de moda, beleza, amor e todo tipo de putaria que você imaginar (imagine e procure no Google pra ver). Assim como não faltam listas dos mais mais, 10+... top top puta que pariu!
Não vou discutir sobre a qualidade dos blogs, até porque não existe uma uniformização do que é publicado; e prefiro encarar essa diversidade de temas e propostas, características dos bloqueiros, como algo sadio e positivo. Cada um usa o seu blog da maneira que lhe convém, há espaço para os profissionais, os (aparentemente) largados e até para os marrudões que se dizem despretensiosos... Quase sempre, o blog é o primeiro passo de um projeto, um embrião, uma espécie contemporânea de diário aberto. Bem, pera lá. Blog é muito mais que isso, é independência com seu mel e fel, lixo e luxo, pós e contra... Entendeu, né?
(Damásio e o Tratado)
Resolvi falar disso porque ontem aconteceu o suicídio do blog do meu amigo Damásio Marques... já era, quem leu leu... Cursei Letras com o Damásio e me emociono em falar disso porque lancei o Digitador Cabisbaixo, meu primeiro blog, seguindo o exemplo dele. Lembro bem das conversas que tínhamos naquela época, falávamos sobre sociedade, literatura e dos escritores contemporâneos que gostaríamos que se sobressaíssem, que representassem nosso tempo, nossa gente (as reticências querem se impor às memórias).
Ainda na faculdade, o Damásio me deu um texto para que eu lesse e pediu minha opinião sem mencionar que era ele o autor. Li e gostei, mas ao invés de começar pelas virtudes, eu descasquei apontando possíveis falhas. Sei que ele não é de guardar mágoas, mas eu nunca pude me perdoar por aquele dia... E eu que aprecio tanto a sua retórica concisa, sem rodeios, pronta.
Quando pensei em publicar o meu livro, fiz questão que Damas fosse a primeira pessoa a ler os originais. Mais que um amigo, ele é uma das pessoas (juntamente com a Flávia Barros) que mais me inspiraram e me incentivaram a escrever.
Como Suassuana, é um arcaico assumido: não tem conta no Facebook (no Orkut também não), não gosta de tirar foto, nem de falar ao telefone; escuta música em LPs e bebe feito um camelo. 
Na moral, o blog do Damásio não era o mais acessado, não falava sobre modinhas, não tinha poesia. Era prosa. 
A blogosfera segue seu fluxo. Um leitor está órfão de um blog, mas um sujeito se conforta em saber que tem um amigo.
Alguém sabe dizer, quanto dura um blog?

3 comentários:

  1. Não sei Ni, confabulo muitas respostas nesse momento (gosto de saber dar resoluções, mesmo que sejam só possibilidades), enfim... É triste saber que este blog não seja mais encontrado, mas alegra-me o fato de que amigos zelam.
    Sei lá, só queria dizer que quem teve contato, acaba sentindo de algum modo... Sinto!

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  2. Acho que dura o tempo da nossa emoção...tinha blogs que eu visitava toda semana que hoje nem me lembro mais...não me chamem de frívola...apenas minha emoção mudou e o blog era sempre o mesmo. Não ouso falar da efemeridade das coisas por aqui. Não me rendi a ela, mas sigo no ritmo do coração.

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  3. Pois é, meu caro.
    Fico profundamente emocionado com tuas palavras. Não pela puxação da sardinha para o meu lado, mas pela consideração que tens para comigo, considerando-me como um dos melhores amigos e inspiradores. Sabes que a amizade é a mais suprema das relações. Penso que até as relações familiares são superadas pelos laços da amizade, sem dúvida mais importante. A relação entre familiares só é superada nesta comparação quando consegue somar as duas coisas: parentesco e amizade. Bom, mas isto não é novidade nenhuma. Já falamos algumas vezes sobre isso.
    Sobre o fim do blog já tinha comentado contigo sobre minha vontade de abandoná-lo. Sou assim mesmo: chato!
    O mesmo me ocorreu quando, há 7 anos atrás abandonei minha carreira de músico, iniciada em fins dos anos 80. Simplesmente cansei.
    Escrever!?! Continuarei. Em outro veículo, e não sei até quando. Se parar, bah! O mundo não perde nada. Seja na música ou na escrita nunca fui um artista, sempre um operário. E não é fazendo tipo. Não dou uma de coitadinho. Sabes que não sou disso. Reconheço minhas qualidades, mas estou consciente de meu papel.
    Você, sim, deve continuar e não te influencies por meu mau humor e decisões tempestuosas. Seus leitores têm muito a perder. Os meus não.
    Abraço,
    do amigo
    Damásio.

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