Faz alguns meses que conheci e passei a frequentar o Sarau do Buzo - Livraria Suburbano Convicto. Mas esse tempo já foi suficiente para perceber a dedicação e zelo com que os poetas e amantes da arte são recebidos. As diferenças são bem-vindas porque o respeito prevalece. A limitação de espaço não é problema, pelo contrário, permite maior proximidade, mais calor. Assim támbém dá pra captar mais sentimento, sentir toda a grandeza das palavras. Nem precisa de microfone, é tudo olho no olho, é tudo verdade. Localizado na região central de São Paulo, o sarau é realizado toda terça-feira, sempre promovendo lançamentos de livros, clipes, cds e muitos outros trabalhos de artistas independentes. E amanhã será o nosso dia, dia de lançamento do Tratado. Estou muito feliz pela oportunidade de divulgar o meu trabalho nesse reduto de poetas admiráveis. Portanto, quero convidar cada um dos meus amigos para esse evento. Confiram o endereço no flyer abaixo e vamos juntos! Vamos prestigiar esse sarau e mostrar a força da arte independente!!
Aprendi que o mundo todo quer viver no alto da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade está
na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido
aperta com seu pequeno polegar pela primeira
vez o dedo de seu pai,
o tem amarrado para sempre.
Aprendi que um homem unicamente tem direito de olhar
outro hombre de cima para baixo,
quando o tiver ajudado a se levantar.
São tantas coisas as que pude aprender de vocês,
mas finalmente de muito não haverão de servir
porque quando me guardem dentro desta maleta,
infelizmente estaria morrendo....
(Trecho de poema de autor anônimo - Atribuído erroneamente a García Márquez)
Todo mundo sabe o quanto evito usar palavras alheias para expressar os meus pensamentos e anseios em geral. Mas o texto acima resume tão perfeitamente o que penso e sinto agora, que seria orgulho demais não empregá-las aqui. Tenho ido a saraus, conversado com outros escritores e refletido sobre esse momento da cena artística/intelectual do país. Gosto de pensar que estamos vivendo uma ocasião especial, dias que serão recordados com saudosismo e alegria. Foi com essa certeza no meu coração que na última sexta-feira (13/07) tive a honra de lançar o Tratado no Sarau LiteraRua. Foi muito intenso comungar a palavra ao lado de pessoas tão valorosas como Binho (Sarau do Binho), Grafite, Lu'z Ribeiro, Fuzzil, os camaradas do grupo Pensamento Negro, Batikis (Rapper De Alma),FabianoPujol (Suspeito-PR) e tantos outros "manos pontas de lança" presentes. O aprendizado nunca acaba. Tudo que tenho visto e vivido nos últimos anos só me mostra que a cena é nossa, irremediavelmente. E o nosso tempo é agora. Confira abaixo o video gravado na abertura do sarau:
Próxima sexta-feira, dia 13/07, haverá o lançamento do Tratado no sarau LiteraRua.O avento contará com apresentações de "rappers", músicos, grafiteiros, poetas e educadores.
E então, vamos juntos?
Segue o endereço:
Rua Francisco da Cruz Mellão 27, altura do 1001 da Estrada do Campo Limo, Horto do Ypê, no CDC Jardim São Januário
Nosso
amor deu lugar a um funeral, que
virou um piquenique no fim da madrugada embaixo
de um pé de lembrança que
se fez duro e saudável ao
dar luz a um jardim na capital de minha mãe, de
onde correu a história de
um sorvete vingativo que
lambia a gente toda
vez que era mordido.
Nosso
amor deu lugar a um banco vazio,
que
testemunhou uma ressaca sem razão deixando na carne um gosto tão acre que não coube na língua do
mundo dizer; quando
os passeios deixaram de ser viagens e
não tivemos mais ritos de passagem para cumprir, nossa
história virou a lenda de um zoológico, onde
os animais estimavam os humanos e,
às vezes, só cobravam 10 centavos por foto.
Nosso
amor deu lugar a um tratado sobre o
coração, que
virou uma banda de jazz disfarçada de livro, poema
da esperança de 300 e tantos malditos não identificados, manifesto
recitado pelos meus manos e um tal bispo, que
coberto por legítima armadura poética, atravessou
a cidade todo cheio de vida, luz e rosas para
invocar nossos heróis em porões, quintais,
ruas, escolas e saraus: redutos
dos santos cidadãos comuns. Nosso
amor deu lugar a quatro mãos no bolso, e
perdeu a beleza que a distância havia lhe emprestado ao
beijar a boca daqueles perigos feitos para gozar; sem
a proteção do seu cuidado, [que
nunca mais será (só) meu] nossos
desencontros ganharam uma lógica que
só quem saiu por último pôde ver.
Quando
resgatamos as coisas que perdemos para o fogo, depois
que o tempo digeriu nossa 1ª morte e
choramos a mesma dor por
sentimentos distintos, [para espanto geral] nosso
“era uma vez” deu lugar a um “volte sempre” e
o nosso amor virou uma história feliz.