sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

tempos ultrapassados

a cada 15min
a cada 4seg
agora
Thaís atualiza a rede.


- Thaís, ainda não foi dessa vez.
a rede continua vazia.
*
foram felizes.
até o momento em que mudaram o status
no facebook.
*
só peço adeus

nunca tchau.
(foto da leitora/modelo: Rafa Cristina)



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Razão

escrevo para viver o dia
em que terá menos gente
na depressão do shopping center
que na aventura de uma livraria.


na luta 
respeito a importância
dos ossos, dentes, sangue e suor.
mas ei
não seria luta se não houvessem sonhos.


eu não escrevo para dar voz aos oprimidos.
eu sou um deles; e estou aqui. 
minha gente nunca calou-se.
meu povo só nunca foi ouvido.


Não é a guerra que me faz lutar

compreenda
só defendo o que me faz melhor
meu sonho não é um status, um lugar

minha palavra ainda procura seu papel


Pregos no asfalto

a gente só volta quando desfaz 
a mala
e as saudades.
*
amou 
nos tempos do fora.
*
amou 
primeira vista.
*
trago comigo apenas 
o que é capaz
de me elevar

*
quanto mais eu erro
mais solução me aparece.
*
suspeito de quem 
ao ouvir um não
fim.
*
5 piores coisas de morar sozinho:

1. perder as chaves
2. ficar doente
3. domingos
4. ter que fazer listas
5. sua ausência.


[sobre a medida da solidão e outros bichos]
(foto: Douglas Alves)




camafeu para ades 2

chega o dia: 
o sol sobe mais cedo
tarde lembra madrugada sem saída
angústia indigna de vômito 
escuridão sem cor
desmaio
mas ainda não ardil
espelho = auto-retrato oco
sem vontade de
(foto: Karina Maia)


Quem acha algo?

Seu texto não é triste nem alegre, às vezes até meio melancólico, mas sempre vivo e com a fluência que só um grande escritor sabe ter. Não economiza palavras nas suas narrativas, mas também sabe ter bastante parcimônia quando convém. 
À luz do dia expressa sentimentos e angústias sem pudor, como se isso fosse permitido e não tivesse nenhuma consequência para aqueles o lêem. Talvez essa seja a sua maior transgressão, ultrapassar fronteiras que não ousamos fazer, mesmo na escuridão da noite, só nós e o travesseiro. E o faz sem remorso algum e ainda diz: não é poesia se as palavras não nos tiram do lugar. E não pensem que ao nos tirar do lugar ele oferece outro. Não! Vai te deixar mesmo ao léu, engrossando a sua lista de transgressão. Mas, ao mesmo tempo, nos impulsiona à ação por meio seu mantra coragem, coragem, coragem...
Seu mantra não é somente um recurso retórico. Não mesmo! Ni Brisant mostra sua coragem expondo suas feridas e seus sentimentos despudoradamente, em busca do sentido de sua vida. E por meio de sua narrativa nos captura à reflexão e, muitas vezes, não entendemos o porquê, mas fica ressonando até que percebemos um pedaço de nós mesmos naquele anúncio. Só que a partir do seu discurso, aquele sentimento escondido, que não ousamos encará-lo, não quer mais ficar camuflado e recusa a recolher-se ao lugar de onde saiu, mesmo timidamente impõe sua existência. Brisa trouxe ar puro aquilo que mantínhamos guardado no íntimo de nossas almas sem coragem de tocar.
Para conseguir se expressar com tanta precisão, criou seu próprio dicionário e consegue fazer sínteses que não fazem desvios, vão direto ao coração. CIÚMES: filme de ficção, com pelo menos 1 ator fantasma.
Por tudo isso, Ni Brisant não cabe em definições apressadas, podemos ir tateando a fim de tentar contorná-lo, mas ele vai sempre escapar!
- Texto da leitora Maristela Barbara 
Arte: Célio Luigi - Texto: Ni Brisant