quarta-feira, 4 de maio de 2016

Auto defesa de afetos

Saiu de casa
sem ter de quem se despedir
Como uma tenista cearense 
vai ao parque sem sua mochila: está nua
e sem pantufa

Olhou para os ombros
e abriu a mão
como se pudesse tocar o aroma do panetone
nos calos das rugas da retina de um recém-nascido

Quis fazer um poema
Não destes da moda, que falam sobre revolução, coisa nenhuma e tal
Como uma miss discursa sobre a África, sustentabilidade e a importância do KY para o swing mundial. Mas só poderia acreditar em um poema que fosse mais exposição que um nu frontal da alma 
e tão silêncio quanto um sim 
antes do final.

Tirou a maçaneta do cílio
e fez greve de futuros
Como quando o silêncio não encontra a sílaba do fim
E encerra a treta querendo dormir com seu ímpar

O crepúsculo te ensinou cedo:
as coisas que pesam são matéria de balança
as que flutuam, do mar
e as que faltam são parte do que mais guardou

Fez pole dance
no pescoço de um elefante (disfarçado de rato)
como uma planta esmaga a bota de um militar
no centro do pregão da bolsa

E
Ainda assim
não pôde (nem sabe como)
pedir sem querer milagre
Que as coisas sejam
Melhores
Como nunca.

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