domingo, 1 de fevereiro de 2015

Prefácio: Páginas envenenadas

O perigo mora dentro
Universal e particular, Páginas envenenadas é o itinerário para uma jornada de extremos, que dispensa passos óbvios e abusa de saltos mortais. Com sua poesia exclamativa, Guilvan Miragaya apresenta um eu-lírico em constante rota de colisão contra a inércia. Suas reflexões demonstram que não basta compreender o mundo e a vida, é preciso não se submeter, não se alinhar, não.
Os sonhos deste poeta levantam a bandeira de uma pátria em evolução, mas cuja identidade ainda é uma multidão em fuga, engenhosas peças da vida que vão além de perdas e lutas.
A partir de um canto da realidade, Miragaya cria enredos (aparentemente desconexos, mas sólidos) invocando figuras de sua saudosa infância, repleta de animais fantásticos e sonhos de caminhadas sem despedidas.
Intacto, escondido em todas estas páginas, está o sentimento mais elevado, aquele que não se detém no corpo. É preciso todo coração para compreendê-lo como a grande maravilha.
Nem beira do lago, nem mar: Lágrimas da garoa.
Nem chuva, nem garoa: água.
Nem ausência, nem distância: poesia.
É assim, utilizando notas do cotidiano e bebendo na fonte dos gigantes que o poeta humano circula por cenários improváveis, na tentativa de romper a fronteira entre uma vida cinza e raios dourados.
Tudo é ocupação. Este livro é rico em referências, a começar pelo título, que dialoga com O nome da Rosa, do italiano Umberto Eco.
Não é apenas um questionamento ao fim do dia. Páginas envenenadas é a coluna de um homem insubordinado, amiúde subversivo. O registro de um sujeito que não se contém nos atos, nem nas palavras.
Aqui está a alma de um homem em movimento. Igual um oceano, não há como atravessar este livro impunemente. O perigo mora dentro. A Liberdade também.
Enquanto houver chão para ir, não faltará céu para voar. Dê o primeiro passo.
Boa viagem!

- Ni Brisant


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Prefácio: Aprender Menino

O astronauta e seu porão
Depois de muito tempo fora, Victor Rodrigues ultrapassa suas próprias barreiras e volta pra casa. Sua bagagem é pouca. Mas o que ele traz consigo não cabe em um peito. Acima das cicatrizes, perdas e ganhos, o que ficou foi Aprender menino, essa caixa de nuvens.
O mundo acabou sem fim. E enquanto a maioria procura razão para viver, o Praga de poeta experimenta uma bebida de suas raízes mais profundas. Sabe que apenas provando-se será capaz de fazer mover essa multidão de um homem só — onde habita. Tudo faz sentir.
Assuntos da rua, política e aquela desesperança, que dominavam os livros anteriores, dão lugar a canções etílicas, algumas alegrias baratas (raramente gratuitas), amores clandestinos e seus desvios de conduta. Sua poesia nunca esteve só no papel.
Aprender menino poderia ser o livro de cabeceira de toda pessoa de 30 ou mais, porém tamanha maturidade requer alguma infância no coração. Tomara que você não esteja velho demais para essa viagem.
Se escrever é, antes de tudo, um duelo com o impossível, Victor está mais bem armado do que nunca. Cada um de seus poemas é um bilhete e uma estrada — jamais um mapa. Aqui não há abrigo, só lar. Boa lida!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Prefácio Pétalas e Pedradas

Do canto fez-se o voo

Nascido e criado no extremo sul de SP, Jefferson Santana traz a obstinação do berço. Em Cantos e desencantos de um guerreiro, seu livro de estreia, ele já apresentava uma postura legítima de combatente, alguém que usa a palavra na tentativa de alterar, de algum modo, a realidade. Assim, Santana tem feito da poesia sua arma. Com ela em punho, tem participado ativamente da revolução cultural que acontece além das periferias paulistanas: os saraus. 
Agora, em Pétalas e Pedradas, este escritor da liberdade traz uma poesia sintética, com versos concisos e amplos de significados. Mostrando que está tão comprometida com a linguagem quanto com o discurso, esta obra discorre sobre questões sociais sem cair na arapuca do panfletarismo político, fala do cotidiano sem torná-lo óbvio e canta o amor como tem que ser – sem prudências. 
O autor retoma frequentemente a figura do homem comum, preso às suas ambições e rotinas pintadas em aquarela-preta-e-branca. Mas ao invés de limitá-los aos estereótipos, seus personagens fogem em contradições, desventuras e horizontes mil. O destino é sempre um lugar a ser preenchido. 
Marcado pela intensidade de um eu-lírico guerreiro, Pétalas e Pedradas possui a urgência de quem sabe que o nosso tempo é agora. Suas reflexões instigam o leitor a novos atos, com improvisos e tropeços próprios de um baile sem coreografia – onde o mais importante é a dança, a ação.
Jefferson Santana mescla toda a sensibilidade de um desalinhado (na vida e no amor) aos elementos da tradição poética para apresentar uma autópsia completa do coração humano. Não há engodos, censuras, nem hipérboles. Em seus versos, nossas moléstias e glórias estão à mostra in natura.
Este trovador solitário descreve – ora em versos curtos, ora em longos – as minúcias cotidianas de um espírito indômito, construído a partir de constantes deslocamentos e rupturas de padrões. 
Seu livro da vida é um poema maior: escrito na pele da última mulher, antes do café da manhã, entre o sonho e a realidade, com notas do manual de um porre qualquer. Não é poesia de protesto; é poesia de perigo!
Para os afetados, é ultraje, palavra malcriada, cínica, que morde e não assopra; cuspe na cara. É PEDRADA na cabeça!
Para os imprescindíveis, é afago, canção de chamamento, contundente, que prenuncia outra estação; beijos de primeira vez. É PETALA na língua. 
Do canto fez-se o voo: Pétalas e Pedradas. Boa leitura e vá!

- Ni Brisant

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Diz pensando

um cheiro
para quem nunca mandou lembranças

d
e
u
s



percebe que está gostando de verdade deixando
se.


domingo, 25 de janeiro de 2015

Acordes para lala

tenta dormir agora
para viver os sonhos que ainda não sabe que serão para sempre
despertar.



(Sarau Encontro de utopias)