terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Crítica Caduca

A crítica de Arte, um dos ofícios mais inúteis e dispensáveis, nasceu das necessidades caretas de organizar, classificar e dar nome às coisas. Mas
logo as mídias (sobretudo os jornais) perceberam a oportunidade de aumentar seus faturamentos em cima de um público que precisa que alguém lhe aconselhe, por exemplo, se o filme que quer assistir vale uma pipoca ou um milharal.
A maioria dos críticos são degustadores que não sabem cozinhar, mas se sentem com toda autoridade para julgar a qualidade dos pratos alheios.  São fabricantes de rankings caducos e perecíveis.
(Ni Brisant - Audiência)
É muito manjado sair distribuindo adjetivos aos clássicos, repetindo elogios que os cânones estão exaustos de receber. Parece que não se pode levar a sério algo do nosso tempo, underground. Como se só merecessem atenção os artistas que ocupam bancos nas academias e colecionam prêmios patrocinados.
Artista vivo dá trabalho, a qualquer momento pode mudar de estilo, virar evangélico ou simplesmente decair. Por isso que a crítica adora os mortos, afinal, basta tachar um rótulo pomposo neles e não se fala mais nisso.
Por outro lado, as novidades são inimigas da crítica porque toda vez que surge uma obra diferente (fato raro) é preciso rever conceitos, buscar um padrão para enquadrá-la e condenar se ela é a melhor ou pior. O novo sempre acaba resumido ao sufixo “pós”, tudo é pós alguma coisa e pronto.
Assim como as ciências e a polícia, a crítica está sempre correndo atrás do prejuízo, do leite derramado. Vive tentando criar teorias e regras que expliquem fatos, manifestações e fenômenos há muito passados.
Mas o tempo é um rei imparcial, e também o mais honesto teste de qualidade. A Arte que quiser ser considerada como tal, precisa passar por ele por conta própria, sem jabá, sem padrinhos.
Ao contrário dos analistas supérfluos que supervalorizam os pontos negativos e simplificam as qualidades só para que eles próprios se sobressaiam em relação ao objeto de estudo, preciso reconhecer a importância do papel que a boa crítica tem desempenhado para a evolução da Arte.
Conforme já disse, todos nós somos seres-juízes, mas para ser um crítico profissional é preciso muito mais do que saber achar defeito nas composições alheias. Além de conhecer todo o funcionamento das engrenagens, é necessário que haja um amor pela Arte maior do que ao seu próprio ofício. Pois no julgamento de qualquer manifestação artística, o sentimento é um critério tão relevante tanto quanto a técnica.

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