segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Brisa

Dentre todas as coisas que existem, o mar é a segunda mais plana, profunda e volúvel. No lugar mais alto deste pódio, está o céu. São os dois terrenos mais inconstantes, logo, são os mais perigosos. Pisá-los exige, além de cautela, estar bem acompanhado, sempre. Aeronautas e marinheiros, embora possuam as maiores cicatrizes, nunca desobedecem tais regras, por isso são também os que têm as melhores histórias para contar.
Céu é o irmão gêmeo mais velho do mar. Filhos órfãos do casamento impossível entre o infinito e a beleza, herdaram os traços mais graves e sinuosos de seus pais. No céu moram as perguntas que nunca serão respondidas, a ignorância mascarada de certeza. É lá que se esconde tudo aquilo que não alcançamos com as mãos, mas que nos fazem sonhar ainda mais longe.
Todavia, tanto o céu quanto o mar são perfeitos para transcender, deixar o pensamento sumir de vista e abrir os poros da mente, até conseguir pensar em nada. Usar apenas os sentidos para perceber o mundo, abrindo mão dos truques racionais aprendidos nos bancos da escola. Quem se diz incapaz de "ir além" ao encarar um deles ou de se emocionar ao presenciar qualquer outro fenômeno igualmente soberano não tem autoridade para falar da vida e suas graças. É como ler uma carta de amor endereçada a você e no meio do texto constar o nome de um terceiro elemento... Enfim, não dá para levar a sério este tipo de gente desinfeliz.
O mar, por sua vez, sempre esteve ali, horizontal e supremo. Com suas próprias leis, mantém intocáveis seus encantos, afrontando tudo que é sólido. Num ritmo de cadência e cólera, que ordena contemplação silenciosa, o mar nos afasta do que somos, livrando-nos das certezas agendadas. Se ele fosse gente, seria adolescente entrando na maturidade, com fúria, saliência e atrevimento. Seria magnata, com bens indeclaráveis, mas que nunca cairia na malha fina do imposto de renda. Ou talvez fosse mochileiro universal e clandestino. Enfim, o mar é pai das inspirações mais aleatórias e bonitas que alguém pode cantar.
Na próxima vez que for à praia, faça o teste, entre até que a água molhe seu umbigo, aí, grite com toda a força de um jeca: "Vem ni mim, mar!". E se prepare, pois ele virá como um rei que nunca deixa de visitar seus domínios. Ondas são engrenagens desgastadas e rangentes, com motor de última geração. Todas as teorias científicas sobre elas, parecem conto do vigário. Explicar é prender, limitar. Sendo assim, melhor deixá-las assim, com seus efeitos embasbacantes.
De volta à terra
Ainda com os pés na areia, conversei com meu amigo Damásio sobre como deve ser a vida de quem mora com vista para o mar. Naquele momento, só vimos vantagens, mas depois de pensar direito sobre esta resenha mudei de opinião e vou explicar logo isso antes que algum "caiçara branquelo" ache ruim.
Suspeito que quem já se acostumou a ver o mar todo dia, talvez nem consiga mais se deslumbrar diante do irmão do firmamento. Afinal, rotina é anestesia, lente embaçadora, inimiga das cores, dos sabores, odores e (só para não quebrar a rima) dos amores.
É difícil não se contaminar pela mesma frigidez que atinge os "testadores" de montanha-russa, que de tanto andar nestes brinquedos, nem sentem mais aquele frio na barriga e percorrem os trilhos bocejando, entediados.
Fenômeno idêntico tem assolado redações, congelado corações de jornalistas, principalmente os mais veteranos, que julgam já terem visto tudo que a vida pode mostrar e não se surpreendem com mais nada. Para eles, tudo é trivial, nada é digno de capa.
O lado perverso do cotidiano age tanto no silêncio quanto em meio às buzinas, adormecendo os sentidos, entorpecendo os sonhos. Entre "bons dias" e "boas tardes", vai transformando coisas formidáveis em lugares comuns. A mira desta epidemia está sempre apontada para os relacionamentos: namoro, casamento, amizade e tico-tico no fubá. A monotonia arranca a graça até das coisas mais fabulosas, fazendo com que os sentidos passem a ignorar tudo aquilo que antes os aguçavam. Profissões e companheiros, até então, "desejáveis" e de causar inveja a todos os outros mortais, se tornam obrigações diárias, cruzes que pesam tonelada e meia. Ninguém está imune. E todo cuidado é pouco! 
Já faz tanto tempo que apagaram as luzes, que até esquecemos os tons das verdadeiras cores do mundo, nem nos damos conta de que não fomos feitos para a escuridão e o cinza já não agride mais nossos olhos.
Outro arqui-rival da felicidade é o preconceito, signo do zodíaco que muitos desconhecem pelo qual é regido, enquanto outros, simplesmente negam seu poder e existência. Assim como nome de batismo, ninguém escolhe os preconceitos trazidos de berço, embora isso não sirva de desculpa para permanecer com eles. Ao contrário da rotina, que consome e satura, preconceito é um "queima largada" preguiçoso e desleal, que impede de ir além da primeira impressão, já sai classificando as coisas e pondo rótulos que só maltratam.
É óbvio que não dá para ficar agindo feito palerma, se "chocando" ou rindo de tudo que acontece ao redor. Mas não é disso que estou falando. Até porque, ninguém suporta gente "feliz para sempre" nem constantemente espantada. Contudo, também não creio que o "meio-termo" seja a solução. Se pudéssemos ainda acordar a curiosidade sapeca da criança que fomos, talvez restasse alguma chance. Mas como despertá-la a esta altura?
Todo o mal reside nesta imposição de entorpecentes eternos, no tapa-olho e cala-boca que nos são prescritos diariamente em troca de salários que se confundem com subornos. Hábitos cancerígenos que cercam os sofás da sala com grades invisíveis e vão tomando o restante da casa sem avisar. 
Bom mesmo é ter consciência do que se faz e poder escolher por exemplo, entre se "dopar" tomando uma cerveja e ficar legal ou beber um copo de água e se manter hidratado e careta. Entre outras coisas, ser livre é saber as vantagens e infortúnios das decisões que tomamos e mesmo assim não deixar de tomá-las. Não nos permitir sermos dominados pelo ostracismo, pela anestesia que chega mensalmente de brinde junto com as contas.
A prisão é tão opcional quanto a liberdade. Contudo, para ser feliz são necessárias alguma ação e ousadia, ao passo que, para ficar preso basta se deixar levar e pronto. Ninguém está a salvo do pior e se a vida é isso aí, então abra os olhos, parta para cima e viva tudo, mesmo.

* Fotografias de Ni Brisant.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A Terra não é nossa

Não é de hoje que o mundo está para acabar. Já até agendaram data, horário e mandaram comprar a pipoca. Enfim, todo ano é o mesmo trote. 
Faz tempo que falar sobre a extinção do planeta deixou de ser assunto exclusivo das rodas de hippies e ecologistas. Contudo, a maioria das religiões e, mais recentemente, a ficção científica, vêm fazendo fortuna anunciando o apocalipse e seus sintomas. Publicitários com uma criatividade apavorante não mostram nenhum indício de cansaço na exploração do tema, por mais batido que ele pareça.
Toco neste assunto mórbido porque quando estava assistindo às mais recentes catástrofes do dia, de repente um velho medo infantil veio à tona: e se o mundo acabar mesmo?
Confesso que trago este cagaço ainda dos tempos de moleque quando os mais velhos gastavam horas discutindo sobre como seria o apocalipse. Defendiam, com muita saliva, cada teoria mais biruta que a outra e só concordavam em duas coisas: o fim só podia estar próximo e ninguém escaparia. 
Na época eu levava tudo isso muito a sério e escutava intrigado, fantasiando fins trágicos, com muita água, fogo, monstros cheios de dentes e outras combinações improváveis.
Aquelas conversas sinistras ficaram grudadas na minha memória, conforme o tempo voava, ia aumentando a sensação de injustiça perante a vida. O mundo ia acabar logo na minha vez de andar nele. Logo, toda descoberta tinha sabor de saideira.
(Ni Brisant - OVNIs)
Pode parecer piegas, mas para mim era mais ou menos como esperar durante dias na fila da bilheteria e bem na vez de comprar o ingresso para o melhor espetáculo do universo, a moça do caixa dá um sorrisinho de canto de boca e baixa a placa: INGRESSOS ESGOTADOS. 
Esta neura acabou um dia, quando ainda era pequeno e fui pescar escondido com meu amigo Jailson, num riacho longe de casa. Na volta nos perdemos no meio do mato e depois de termos "canelado" muito, paramos para descansar e comermos o resto da merenda. Depois de matar quem tava nos matando, ele se levantou e quase chorando, disse: "Rapaz, o cabra não pode se danar sem ter agarrado nem que seja uma mulher. Vambora, que eu não quero morrer aqui não!"
Hoje, rimos muito ao lembrar esta aventura, mas no fundo, ela representou um divisor de águas na minha maneira de enxergar certas coisas. Dentre elas, percebi que não teria uma "morte coletiva", como pensava até então, e que o meu mundo poderia acabar sem que, necessariamente, o dos outros fossem afetados. Olhei a vida como algo bruto e tosco, sem consistência definida. Mas de uma coisa eu estava certo, ela jamais toleraria meus vacilos.
Depois disso, perdi muitas noites de sono, tentando "agilizar" o primeiro beijo e outras façanhas. Não era mais o fim do mundo que me assustava, era a vida, a solidão. 
Estes anos de estrada me deixaram cheio de certezas vãs, como tudo que é certo. Uma delas garante que o mundo não irá acabar pelo menos não como os profetas abutres vivem pregando.
Temos nos acostumado com cada coisa absurda, que nem somos capazes de ver além da superfície. Por exemplo, ninguém mais se alarma ao ouvir que a humanidade é a maior praga do planeta. Ora, pode parecer bobagem, mas nesse tipo de discurso reside uma significação que vai além do jogo de palavras. Não quero ter que achar normal ser igualado a um parasita. 
O senso de propriedade já está tão impregnado que a maioria trata a Terra como se fosse uma casa da qual é dono e não inquilino. É um disparate esculhambar uma moradia, a qual, se sabe, será a residência de toda a sua descendência. Claro, suspeitam da existência de outras casas disponíveis para alugar, mas nenhuma delas oferece o conforto, nem o precinho que pagamos para morarmos aqui, além do que, já estamos acostumados com os vizinhos. Aproveitando a metáfora, tem gente mais preocupada com o quadro da sala do que com o vazamento do banheiro. E outros ainda querendo tocar fogo nessa bagaça.
Nos últimos janeiros a Terra andou com aparência esquisita, febre e outros sintomas de tirar sono e fôlego. Embora possua suas próprias armas para se defender de gente como nós (ou não), o planeta continua dando suas voltas, ocupando espaço. Esta perspectiva não me consola, mas me faz crer que o mundo nunca terá fim, somos nós quem corremos risco. A Terra não leva mais desaforo. Ame-a ou deixe-a!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

07:55 AM

(Paulo SS)
O dia estreia com trilha sonora desafinada
impondo sua claridade em tons violentos
arrasa o sono, essa morte-mal-matada.

O mundo já está com os pés no chão
quando a luz domina a inconsciência
obrigando a desabotoar os olhos.

O teto lembra partes de um sonho
com realidades há muito esquecidas
que fazem do relógio objeto ridículo.

Como sorriso mecânico de ex-banguela,
que só ri para mostrar seus dentes falsos,
o impulso do atraso movimenta a vida.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gravidade suspensa


(Marcelo Gerace)
Atravessei frio e seca
sem ter motivo para abrir a boca
e o osso só a dureza da pele cobriu.

Tanta tirania revoltou a minha ira
e a morte pareceu ser a única peça
capaz de confortar e vestir bem.

Incinerei dúzias de contratos escrotos
que ditavam regras estúpidas
e sem validade expressa.

Bem querer foi peso sem medida,
espelho que ignorou seu reflexo,
cofre onde tudo coube, nada sobrou.

No peito a batalha ainda continua violenta
pois o tempo não estancou a tristeza,
nem pagou o tributo ordinário do pesar.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Estilhaços no tapete

(Paulo SS)
Juro só prometer o que posso cobrar de mim
mas continuo matando um coração por dia.

Finjo que minto
quando digo o que quero.

Te machuco com diversos
depois me firo sozinho.

Falo sério sorrindo
tentando evitar conflitos.

Sigo sempre adiante
sem deixar meus erros para trás.

Peço desculpas sem perdão
antes que o remorso me apanhe, me bata.

Mas tua ausência desespera o desatino
e minh’alma já não consegue se enganar.

* Texto também publicado em: Livre Fanzine

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Jogos de Guerra


(Paulo SS)

Intrigas revelam desencantos
dilaceram os olhos,
mostrando que antídoto
é o veneno dos fracos.

Sonho psicodelias
enquanto você raia
sem se esgotar
em viagens astrais.

Sempre vence
nunca sacia.
Lutaremos então
até nos consumir.

A Crítica Caduca

A crítica de Arte, um dos ofícios mais inúteis e dispensáveis, nasceu das necessidades caretas de organizar, classificar e dar nome às coisas. Mas
logo as mídias (sobretudo os jornais) perceberam a oportunidade de aumentar seus faturamentos em cima de um público que precisa que alguém lhe aconselhe, por exemplo, se o filme que quer assistir vale uma pipoca ou um milharal.
A maioria dos críticos são degustadores que não sabem cozinhar, mas se sentem com toda autoridade para julgar a qualidade dos pratos alheios.  São fabricantes de rankings caducos e perecíveis.
(Ni Brisant - Audiência)
É muito manjado sair distribuindo adjetivos aos clássicos, repetindo elogios que os cânones estão exaustos de receber. Parece que não se pode levar a sério algo do nosso tempo, underground. Como se só merecessem atenção os artistas que ocupam bancos nas academias e colecionam prêmios patrocinados.
Artista vivo dá trabalho, a qualquer momento pode mudar de estilo, virar evangélico ou simplesmente decair. Por isso que a crítica adora os mortos, afinal, basta tachar um rótulo pomposo neles e não se fala mais nisso.
Por outro lado, as novidades são inimigas da crítica porque toda vez que surge uma obra diferente (fato raro) é preciso rever conceitos, buscar um padrão para enquadrá-la e condenar se ela é a melhor ou pior. O novo sempre acaba resumido ao sufixo “pós”, tudo é pós alguma coisa e pronto.
Assim como as ciências e a polícia, a crítica está sempre correndo atrás do prejuízo, do leite derramado. Vive tentando criar teorias e regras que expliquem fatos, manifestações e fenômenos há muito passados.
Mas o tempo é um rei imparcial, e também o mais honesto teste de qualidade. A Arte que quiser ser considerada como tal, precisa passar por ele por conta própria, sem jabá, sem padrinhos.
Ao contrário dos analistas supérfluos que supervalorizam os pontos negativos e simplificam as qualidades só para que eles próprios se sobressaiam em relação ao objeto de estudo, preciso reconhecer a importância do papel que a boa crítica tem desempenhado para a evolução da Arte.
Conforme já disse, todos nós somos seres-juízes, mas para ser um crítico profissional é preciso muito mais do que saber achar defeito nas composições alheias. Além de conhecer todo o funcionamento das engrenagens, é necessário que haja um amor pela Arte maior do que ao seu próprio ofício. Pois no julgamento de qualquer manifestação artística, o sentimento é um critério tão relevante tanto quanto a técnica.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A um certo Carlos

Prezado Carlos,
Jamais saberás quem sou, mas eu te conheço bem e isso basta!
Tuas palavras me tiraram do lugar, me ajudaram a chegar até aqui com a energia e sentimento de quem não se acovarda ainda que diante de frequentes exposições às mais altas velocidades ou às piores ameaças. Mostraram alternativas e tantos mundos, que de tão extraordinários, não cabem.
Mas Drummond, de vez em quando sua Arte ainda cisma em escapar do meu entender. Teu esclarecimento é a profundidade do universo; e perto do teu oceano, minha maturidade ensaiada não é capaz de completar um copo d’água.
(Ni Brisant - Impressões do campo)
Há muito que pressinto tua existência e suspeito minha verdade nos teus códigos. Neles reside a síntese do que sou, do que sei e ignoro.
Carlos, dia desses, num ímpeto arrebatador, gravei tua caricatura em minha pele. É justo que depois de tudo eu te traga comigo. Agora que teus traços estão grudados na minha superfície, vou descer à periferia do centro da cidade para beber com nossos camaradas, cantar boas coisas e descobrir que somos mais felizes do que podemos pensar.
É verdade, ainda há uma pedra no caminho, mas hoje te carrego do lado esquerdo, onde está tudo que existe de melhor em mim. Não há perigo, Drummond!
Penso em reunir meus amigos mais raros para fazer um livro que se aproxime dos teus. Uma obra que fale de todas as nações enquanto descreve minha aldeia, que mostre a essência do coração a quem só conhece o cheiro do sangue e que revele aos assalariados toda a graça de uma quinta-feira ociosa no parque. Um livro tão simples, que faça meus companheiros apontar-lhe as falhas e meus algozes aplaudir a estética. Criarei um iceberg para afundar os navios de banalidades carregados de submissão e dor; algo que faça minha mãe chorar e minha filha rir.
Usarei minha expressão para compreender a linguagem dos sonhadores fechados em disfarces de cidadãos comuns; Minha busca será o oráculo dos que ainda não aprenderam a interpretar a sabedoria do silêncio, nem o amor de um abraço amigo.
Carlos, meus manos estão comigo, estão todos bem! Enquanto noticiam nossas mortes em outdoors, já estamos disputando outras guerras e escrevendo a história do nosso tempo. Não há perigo, Drummond!

A verdade não interessa

“Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz!” Na distância dos seus 80 anos, Ferreira Gullar resumiu assim sua ambição perante a vida. Tal frase ecoou em vários meios e foi tratada como ofensa, um escândalo entre os intelectuais de escritório. Segundo dizem, alguém da estirpe de Gullar não pode abrir mão da verdade feito adolescente que foge de casa para ir morar com a namorada.
O embate razão versus felicidade é dos mais duros e antigos, mas a declaração de Gullar, quando tirada do seu contexto original, revela bem mais que um sintoma do egocentrismo dos nossos dias, mostra uma profunda ignorância e desinteresse por tudo que é alheio.
Este "tô nem aí" reflete a frustração daqueles que ousaram acreditar na vitória da civilização contra a barbárie, mas cansados desta guerra sem fim, estão abandonando a batalha e indo viver suas vidas. Embora este seja um dos poucos exércitos em que valha a pena se alistar, ninguém quer lutar por algo que se distancie do seu umbigo.

(Paulo SS)
Por outro lado, certos pensadores burocratas vivem gritando como devemos viver, amar e nos portar diante de cada situação. Reduzem todas as necessidades e ideais de uma geração a uma fórmula matemática, uma receita de bolo. É muita petulância se atrever a ditar o que os outros precisam, querem e principalmente, o que os farão felizes. Vendem segredos (secretos?) para todos os males, feito aquelas garrafadas que combatem desde unha encravada a inveja.
Há coisas que têm fins determinados, estabelecidos e definitivos. Por exemplo, toda empresa tem como único objetivo gerar lucro e qualquer coisa que se diga além disso é mera retórica. Portanto, quando uma instituição gasta cinco reais em ações beneficentes, com certeza irá investir, no mínimo, cinquenta para divulgar este gasto e revertê-lo em lucro. Ou seja, toda ação empresarial, mesmo as aparentemente sem interesse, têm como missão o ganho. Só que nós não somos, pelo menos não deveríamos ser, tão óbvios assim.
É muita ingenuidade pensar que estamos aqui somente para sermos felizes, dar risada e fazer o bem. Somos poços profundos; e até agora ninguém conseguiu dar uma resposta satisfatória quanto à razão da nossa existência. Por outro lado, parece que querer ser feliz tem que nos desobrigar de todo o resto. Como se quem busca a felicidade tivesse que se tornar um bobo risonho. Não se pode querer ser feliz e engajado ao mesmo tempo. Felicidade virou (só agora?) sinônimo de poder aquisitivo, boa saúde e sobretudo alienação.
A seção de autoajuda é a mais desesperada, embora se considere capaz de mostrar o caminho para a felicidade em 10 passos tão simples que qualquer um é capaz de executá-los. Mas como todo manual de instruções, não demora muito para se ver a impossibilidade de colocar em prática tudo o que ele exige.
(Tigão)
Faturam alto, porque a maioria não quer se dar ao trabalho de pensar, terceirizam suas vidas como um cara de 35 anos a quem a mãe ainda escolhe a roupa que ele irá usar. Imbecilidade dá náuseas.
Entediados carentes se entorpecem com ideias e programas tão vazios que não se sustentam diante de uma breve reflexão. Quem conseguiu terminar um livro de autoajuda pode se considerar especialista no assunto. Não sei quem inventou o primeiro, mas todos são, basicamente, uma sucessão de plágios.  
Todo dono de bar sabe que sua mercadoria é mais interessante que aquela que a universidade mais próxima tem a oferecer. Prova disso é a evasão das salas de aulas todos os dias (antes era só às sextas) na procura por algum entorpecente gelado ou fumegante. Aquela balela que contaram sobre a verdade libertar a raça está mais por fora que gíria de novela das oito. A verdade não interessa.
Ah, mas não cheguei até aqui para dar receita de ano novo feliz, de como realizar-se profissional ou pessoalmente e muito menos de como se superar, vencer na vida e coisa e tal. Ninguém consegue se dar bem o tempo inteiro, mas a maioria ainda não caiu na real e fica desesperada, tentando ser feliz a pulso, a todo instante.
Mãe alguma ensina ao seu filho algo que lhe pareça ruim, pois além de não querer o seu mal, sabe que o mundo é quem se encarrega de mostrar o que não presta. Partindo daí, penso que não devemos nos preocupar tanto com os infortúnios, pois o modo como chegamos ao outro lado depois de superá-los é o que faz toda diferença, preservando o que há de melhor em nós e desfrutando as boas coisas, pois do sofrimento, a vida já se encarrega.
No final, tanto a certeza quanto a felicidade são bênçãos solitárias.  Mas se assim como Gullar, estivermos certos do que queremos, já é um excelente começo.

Sobre o Tempo e o Espaço que ocupamos

A viagem mais fantástica da minha vida  não teve como destino uma dessas metrópoles badaladas do velho mundo, nem aqueles paraísos turísticos de estação. 
 Depois de alguns quilométricos anos, enfrentei a volta à terra de onde, segundo o meu RG, sou natural. Retornei à minha Macondo, o Barreiro, um lugar fora do mapa e da História (nem adianta desafiar o Google).
Não tinha me dado conta da imensa revolução que se passara nas minhas entranhas. Foi preciso rever minha gente e me avistar no reflexo das pupilas molhadas de quem eu amo para poder decifrar tudo que se sucedeu desde a tarde em que me tornei retirante. Então, assim o fiz.
À noite os sacolejos da decolagem me fizeram suspeitar que a morte estivesse a bordo do avião, e até pensei ter visto cenas da minha vida feito um filme a la Tornatore. Mas desembarquei cheio de vida, com o coração fazendo um tum-tum-tum tão remixado que até senti vontade de beijar o chão da capital, que nem uns quando chegam e querem fazer média ou por falta de coisa melhor para beijar. As portas da percepção estavam escancaradas.
Enquanto esperava a cavalaria, um bêbado atropelou um carro estacionado. Até agora não sei de onde saiu tanta gente disposta a defender o veículo indefeso e castigar o malfeitor. Mas como Deus zela demais pelas criancinhas e bebuns, do nada, surgiu um policial e gritou silabicamente: “Rapaz, se pique daqui, vá!”.  Ali, naquele instante, tive a certeza mais certa do mundo: eu estava na Bahia, enfim havia voltado para casa.
Galilei sabia do que estava falando quando se atreveu a dizer que o mundo não para, no entanto, vive dando voltas, assim como nós. O primeiro rosto conhecido que enxerguei foi também o último de quem havia me despedido. Mesmo depois de todas as mazelas enfrentadas, meu amigo de mais longa data continuava sendo alguém com quem eu podia contar.
A visão além da vista
A volta das férias escolares sempre me deixava com a impressão de que as coisas no colégio tinham mudado de tamanho, incluindo as pessoas. Como se nesse intervalo, eu tivesse crescido quase um metro e mudado tanto, a ponto de começar a me achar grande demais para gastar o recreio brincando e via a classe se dividir entre os maiores e menores que eu. Tamanho era documento.
Quando cheguei ao Barreiro senti algo muito parecido: um estranhamento sem medida, como se alguém com uma máquina super encolhedora houvesse passado por lá. Não conseguia admitir, por exemplo, ver casas de brinquedo no lugar daquelas que eu conhecia de cor. A partir deste espanto, meu reino começou a perder a magnitude que eu trazia na memória e foi ficando mais bonito, mais palpável. Meus pés estavam no chão e isso era bom sinal.
Àquela altura, o Barreiro já havia exportado outra safra de filhos. Somente os mais tímidos (talvez) ficaram para manter viva a lembrança de um tempo em que o sofrimento era marca de nascença e garantia de dureza e coragem. Tempo que está se extinguindo, assim como o próprio lugar já começa a se confundir com qualquer outro. A globalização não entra pela porta, meu brother.

O motivo desta sessão do descarrego não tem a ver com bairrismo. O mundo é um ovo. New York é mais parecida com Recife do que queremos acreditar e se pensarmos bem, cada um tem algo de cidadão do mundo no peito ou na estante. Somos ilhas. A diferença é que alguns dialogam com o continente, enquanto outros vão a ele somente para buscar mantimentos. 
Talvez nada disso caiba aqui, mas das coisas que agora sei, posso afirmar que há sempre alguém esperando pela gente e que no fundo, querendo ou não, nós também esperamos por algo que nos arranque do chão.
Esta viagem me permitiu pensar, descobrir e aceitar muitas verdades desconhecidas e outras que eu simplesmente não queria saber.
Não se trata propriamente de gratidão, mas ainda que estejamos sempre nos transformando, é inegável que o resultado do que somos tem muito a ver com as vivências, com as pessoas que cruzaram nossa estrada, entre tantas outras variantes. Ninguém se faz sozinho.
A ausência ainda pode ser o modo mais eficaz de ser reconhecido, contudo, ocupamos somente o tempo e o espaço proporcional ao tamanho das nossas atitudes, à grandeza da nossa postura.
Há pessoas, lugares e acontecimentos que nos marcam tanto, de tal modo, que dá vontade que durem para sempre. Só que é impossível trazer sempre a tiracolo quem amamos, nem dá para se trancar naquele cantinho especial até que o mundo acabe ou parar o tempo no instante mais perfeito. A vida é aqui-agora, embora nem sempre tenha sido assim.
Penso que quando algo nos marca, nos toca de verdade, se torna impossível falar da nossa história sem mencionar o seu nome, isso se converte numa parte tão própria da gente tanto quanto uma cicatriz ou marca de nascença.
Ainda que uma vez, é preciso rever-se, dizer o que é preciso, fazer uma ligação, não importa que seja para gritar um "eu te amo" ou um palavrão. Afinal, o importante é tentar seguir em frente sem deixar nada, nem ninguém para trás.


Fotografias de Ni Brisant.
Texto também publicado em: http://www.acajutibanews.com/portal/sitecolunista.php?id=58

domingo, 2 de janeiro de 2011

A classe média será esquecida

Ontem acabei de arrumar a bagunça. Coloquei alguns objetos em ordem alfabética, outros de acordo com a idade e o resto deixei como estava mesmo. Há coisas feitas para ocupar espaços indeterminados, não se enquadram a nenhum critério de organização. Só quem já pôs, ou se atreveu a tentar botar o passado em ordem sabe do que estou falando. 
Dentre as muitas descobertas que fiz nesta regressão através de antiguidades seminovas e afins, encontrei uma foto da minha turma da escola. O tempo me fez muito bem, esta a primeira coisa que me veio à cabeça quando me vi estático naquela relíquia desbotada, com uma cara de quem não sabe que cara fazer. A foto está bem acabada, mas é clássica, e como tal, foi montada no estilo time de futebol, uns agachados e outros em pé, com direito a chifrinho e tudo.
Lembro que naquele dia, me posicionei estrategicamente ao lado do amor da minha vida da época. Como não fui o único a pensar nisso, faltou mulher, e no final das contas, teve marmanjo de cara amuada por estar sendo eternizado ombro a ombro com outro sujeito. Fotografia ainda era luxo e todos ficaram com cópias do mesmo exemplar. A filha única ainda rendeu muita mangação e arranca-rabo ao longo do ano. Eta aurora besta, essa da minha vida!
Mas chega de nhén-nhén-nhén e vamos direto ao recheio. Ocorre que eu não consigo reconhecer duas pessoas que estão no retrato. No verso tem o nome de cada um, mas aqueles simplesmente não me dizem nada. Ruminei muito sobre isso até chegar a um arremate. E contei esta fábula duvidosa para que entenda a conclusão que virá: Se existe um jeito garantido de passar pela vida sem ser notado, basta ser uma pessoa medíocre. 
Honestamente, não consigo me lembrar daquelas caras. Mas tudo indica que deviam ser daqueles que nunca pagaram mico, nem arrumaram sequer uma treta, só que também nunca estiveram perto de ser os nerds ou a galera descolada da escola. Enfim, ficaram o tempo todo em cima do muro.
Mas pera lá, não confunda timidez com mediocridade. Na roda de piadas, por exemplo, os tímidos riem, enquanto os medíocres fazem cara de bunda. Ah, e outra coisa, o termo medíocre quer dizer médio, mediano, sem graça mesmo.
Do malandro ao certinho, cruzamos com os tipos mais variados de gente ao longo da vida. Lembramos delas pelos extremos, seus defeitos ou qualidades, nunca pelo seu aspecto meio-termo. Para cada categoria de pessoa, existem incontáveis subdivisões. Por exemplo, há o folgado carismático, o folgado sem causa e por aí vai. A seguir, citarei alguns subtipos de medíocres, naturalmente, nocivos e dispensáveis.
Medíocre eclético é o boa-praça, que quer se dar bem com funkeiros e baianos. Por trás do discurso da boa-vizinhança se esconde a falta de gosto, de qualquer critério e uma carência mórbida de quem quer ser amado e aceito por todas as tribos. Não cola esse papo de que eclético é o cara sem preconceito, que está sempre aberto a novas experiências e tal. Somos seres-juízes e julgamos, instantaneamente, tudo. Por isso, fico com o pé atrás com pessoas que dizem gostar de tudo e de todos.
Medíocre é o corno manso que sabe da traição e finge não saber só para não precisar dar uma lição no Richard, bancar o macho e largar a tal. É quem leva desaforo para casa todo dia e nem se atreve a se revoltar. Não se manifesta nem diante das alegrias, nem dos infortúnios.
Há também o politicamente correto que é o bom moço super tendência. Não fuma, não bebe nem chupa bala com açúcar. Adora dizer que as coisas são relativas, porque tudo é relativo mesmo e não dá para discordar. Ora, mas não existe nada mais insuportável do que alguém que quer estar sempre com a razão.
Não nascemos para passar ilesos pela vida, sem sangrar. É necessário dizer a que viemos, ainda que sob o risco de estarmos errados. Erros e acertos são tão pontuais quanto a fome. Tentar retardá-la vai te deixar parecendo um urso panda. Tentar viver harmoniosamente vai te transformar num 0.  
É bem verdade que os medíocres também sofrem, choram, amam, mas fazem tudo tão comedidamente que nem notamos. Engana-se quem pensa que eles são encontrados somente na camada dos comedores de pão-com-ovo. Reis, presidentes e chefes medíocres já dominaram (não dominam mais?) o mundo. Mas são incapazes tanto de fazer uma revolução quanto um motim. Nem preciso dizer que a burguesia é medíocre. Ela só é. A classe média será esquecida tão logo passe o quinto dia útil.
É óbvio que o equilíbrio e a diplomacia são indispensáveis na vida em sociedade, mas veja bem, tem horas que a gente precisa discordar, indignar-se mesmo.
A mediocridade é a irmã caçula da ignorância, da alienação e do silêncio turvo que nos ameaçam. É muita burrice não fazer uso de outras possibilidades, anular-se no vácuo de estatísticas erradas.
Viver já é arriscado por si só e talvez nem venhamos a ser grande coisa, mas não é isso que importa. No final das contas ou depois da saideira, o que vale mesmo é ser lembrado. Portanto, encare a lente, faça sua melhor pose e mostre quantos dentes for capaz. 

* Ilustrações de Marcelo Gerace, da série Metáforas intrínsecas.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Funeral dos deuses

Depois de certa idade, o arquivo pessoal, vulgo bagunça, foge do controle e organizá-lo se torna tarefa tão sinistra quanto desenterrar defunto. Além do mal cheiro, a gente sempre acaba achando coisas que nem supúnhamos e independente do estado que o desinfeliz esteja, nos afeiçoamos mais do que aconteceria em outras circunstâncias.
Antes que o fim de ano chegue e as sagradas neuras natalinas se instalem, resolvi pôr fim à zona. Admito que a geral não foi muito longe, mas se o quarto continua o mesmo de todo dezembro, ao contrário do que está pensando, não tem a ver com falta de coragem. Fracassei na excursão aos armários e portas-etcéteras, mas tenho um álibi forte. Uma eureca me bateu que nem anúncio de tragédia, com desespero e tudo. Demorou a cair a ficha, mas então, foi como quando a gente percebe que esqueceu uma coisa em casa só que já é tarde porque estamos no meio do caminho. Pressentimos o esquecimento sem saber. O estalo da constatação vem acompanhado de uma raiva, um desconsolo. Feito quando se quer dizer uma coisa e o nome próprio não chega na boca. Todas as outras palavras vêm, menos a que se quer. Depois ela chega que nem susto, quando não serve mais. Palavra é mesmo bicho de asa. 
Para entender o que vem adiante é melhor que conheça algumas negativas: nunca participei de qualquer fã-clube, não frequento bailes da terceira idade e, principalmente, ainda não cheguei aos quarenta anos. Portanto, isso não passa de suposições supervalorizadas. Ou não.
Entre a poeira de discos, cartas, livros e outras anacronias tive a sacada mais triste da semana: os deuses estão morrendo!
Sempre buscamos alguém maior que a gente, capaz de ser o que não ousamos, para confiar e segurar/dar a bronca. Heróis, pai, mãe, futebol-clube, enfim, são incontáveis as nomenclaturas desta entidade. Mas cada um tem ou teve um modelo, alguém pra pagar pau. Vou reduzir estes personagens ao pseudônimo deus. Não estou me referindo a Ele, mas poderia. Sem retaliações póstumas, ok?!
Vejo ícones fazendo suas últimas apresentações, jogadas, lançamentos, turnês e dá uma aflição pensar que por trás deles há tanto significado que não há palavra capaz de dizer. Lastimo não propriamente a morte, afinal, todo mundo sabe que viver mata. Lamento pelo que isso representa. O mundo só vale enquanto significado, se tirarmos o sentido das coisas, uma pedra vira apenas uma pedra, perde o sentido e só fere. Embora a legítima matéria transcenda às explicações várias.
Estamos presenciando o enterro dos derradeiros deuses, inclusive daqueles que mantiveram sua divindade oculta. Nos despedimos também de todo um legado, de um modo peculiar de ver o mundo, de falar e viver. Em suma, damos adeus a uma gente que resistiu de pé às transformações mais violentas, contrariando previsões médicas, lotando estádios e arenas, andando na contramão. A vida é uma ordem e resistir é o que sabem fazer melhor. Seus currículos contam experiências que jamais experimentaremos.
Cada vez mais sentimos falta de um pretérito-mais-que-perfeito que nem era tão bom assim, mas que bate de longe este presente anônimo.
Falar mal do novo, da decadência da indústria cultural ou do sistema que produz ídolos precoces (entre outras coisas) é apelar para a crítica fácil e não o farei, embora sinta vontade. Se estamos órfãos de referências, as babás que arranjaram para nos distrair são tão carentes quanto. 
A renovação é um processo natural. Acontece que o mundo tem agora aroma artificial de fumaça e não dá para querer naturalidade em um lugar onde os artistas (só eles?) são confeccionados em linhas de produção e sem qualquer controle de qualidade. Não confunda o que digo com o saudosismo mórbido que impera nas rodas dos caretas bêbados. Nada contra as máquinas, só que já está mais do que na hora de pararmos de imitá-las.
Músicos, contadores, a galera do cinema, gente que se pode tocar, enfim, as pessoas mais interessantes que conheci (nem todas pessoalmente) “passaram a catraca” ou estão enganando a morte, colocando um pé e tirando o outro da cova. São os porta-vozes de um mundo que não existe mais, de um tempo que não pertence a lugar algum. Terão seus dados alterados e imagens manipuladas quando aparecerem nos livros didáticos. Para ser bom é preciso estar sempre bem. A morte é sempre um cala-boca, um roubo anunciado!
A história nos mostra que de tempos em tempos, os deuses deixam a terra para que valorizemos os seus feitos. Quando isso acontece, a bruxa mal-amada apavora, proíbe tudo, principalmente o sorriso e o pensamento livre. Por isso que rir e pensar ainda são dos atos mais subversivos. É nesta hora que homens com sangue nos olhos e muitas idéias na cabeça se revelam homens de fato. E de tanto fazer, provocar e desafiar suas sina, conjugando verbos mil, renovam a fé na raça, tornam-se mais que homens e ganham o mundo.
Agora parece que a tal bruxa está novamente solta. Homens, avante!

* Ilustrações de Paulo SS.