quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Bote Fé: Profissão Andarilho, 2015

Separar artista da obra não é preciso. Sentir também é impreciso. 
Criador do sarau ComplexCidade, o moço indaiatubano Bruno Peron produziu um livro com a marca da pressa destes dias. Romântica e com sede de bocas, sua primeira publicação foi feita para caber no bolso e proporcionar outras perspectivas do caminho.
O improvável virou ofício
Tanto quanto da observação, a poesia de Bruno nasce dos seus movimentos (e desconsertos) no mundo.
O poeta sabe que, diante da vida, apenas palavra não basta. Distribuir adjetivos, insultos ou reticências aleatórias também não dá conta. Vale mais o intangível. O sem nome é a busca.
Profissão Andarilho é uma biblioteca de um homem só - em expansão. Antologia de encontros, desejos, chamados e despejos.
Uma janela sem teto.
Peron espalha partes de sua história em cada página. E não se preocupa que lhe julguem fraco, lascivo, ingênuo ou campeão. (...)
Não há treino para esta viagem. Apronte suas asas e boa viagem. Procure saber.
Deixo aqui um poemeto pra lhe abrir o apetite. Ou não:
"Esquerdo
Escolheu um lado,
ficou com a metade

do coração." A releitura e esta resenha aconteceram sob o som dos discos:
- Selva Mundo, da Vivendo do Ócio
- Cada um tem o que merece, de Laranja Mecânica
- Quarto Mundo, de Fino Du Rap

Obs. Este é o Bote Fé, um projeto de mini resenhas de obras de autores vivos, que lançam livros nada convencionais.

Toda segunda-feira tem novidade na página:https://www.facebook.com/nibrisant/ 



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ, Nícolas Nardi

"Isqueiro: fogão de bolso
Dedo: o braço da mão
Qubra-molas: a gravidez do asfalto"
Nícolas Nardi faz poesia parecer algo simples, fácil (não pobre, óbvio). A foto acima é dos fanzines que ele auto publica e vende por Novo Hamburgo-RS. 
Poesia barata, que te rouba um riso (e uma reflexão, de quebra) a cada página.
Além do conteúdo ligeiro, sarcástico e sagaz, os zines do Nicolas são feitos com zelo. Dá gosto guardá-los. E provam que não é a publicação de um livro (no formato tradicional) que batiza um poeta.
Perguntei ao músico Eduardo Dias o que ele pensava da obra do Nícolas: "achei a leitura bem tranquila, fácil, fluente. a coisa do cômico no tempo, os temas, a forma, as correlações...
os escritos me lembram aquelas palavras ditas por quem tem muita coisa em mente, juventude, ideias fervilhando, necessidade de expor, meio hiperativo (no melhor dos sentidos).
no fim das contas os escritos atendem à proposta que é do despertar no outro.
muito bom!"
Agora você ficou a fim de ler, né? Pois então... Vá ler gente viva. Antes que seja tarde. Emoticon wink Lidem com essa do Nardi:
"este livro não serve
para nada
mas se servir
de nada."


Procure saber mais e leia gente viva. Ou não.
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ, Vitamina

"cérebro, para de telefonar pros meus olhos!"
Esta fração do livro Vitamina não dá conta da imensidão que é Juliana Bernardo. Mas abre alas. E levanta suspeitas, que são mais bonitas que velhas certezas. 
Vitamina é um livro de versos-imagens-desvios-encruzilhadas e mais mais. Sutil sem ser sem sal.
Editado por Eduardo Lacerda (Patuá), prefere a intimidade dum buteco ao hermetismo padrãoAcademia.
Juliana vai costurando a gente com suas entrelinhas (intertextos) cor de sangue e ontem e paixão e.
Livro sem maiúsculas. Nem ponto final - nunca. Imita um rio que corre na direção do céu.
Emaranhado de textos relâmpagos e maratonas, Vitamina é seleção de um time de goleiras. Voadoras.
Perguntei ao poeta Victor Rodrigues o que ele pensava de Vitamina. Ele disse: Imagens!
Pois vá ver.
Por esta e tantas outras, vale procurar saber: "transbordar é uma bênção
transbordar é uma lição

meu reino por desaguar você"


Procure saber mais e leia gente viva. Ou não.

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Bote Fé: DizCrição

Com formato de bolso, este é um livro pra ser lido de uma sentada (40 páginas). E ruminar por umas semanas:
"Quem pensava achar num caminho uma bala perdida 
no exato momento que nada procurava?"
Miró, o poeta do alegrismo, é apresentado com intimidade e cuidado por outras entidades: Pezão (cofundador da Cooperifa) e Otília. 
Publicado em 2012, é essencial para quem quer desfrutar e refletir a poesia contemporânea. Textos curtos e ressonantes.
Ora desequilibrista. Ora profético. Ora sem relógio. Emoticon tongue
Miró não é unanimidade... Ele é a poesia em pessoa. Um caso em que dissociar autor da obra é tarefa para argonautas.
Sem misticismo. Miró se aproxima - cada vez mais - da poiesis. Sempre humano e palpável.
Quem circula pelos saraus de São Paulo (e outras quebradas) certamente já escutou alguém levantando um poema desse pernambucano porreta. E foi assim no último sábado no Sarauê (recital poderoso realizado em Parelheiros): um puxou um poema de Miró, depois veio outro e outro... Aí lascou!
Li aqui-agora pro meu vizinho Tonhão (75 anos) alguns poemas do Miró e perguntei o que ele achou: "Porra. Esse cara ainda tá vivo?" foi a reação.
De quebra-queixo deixarei estes versos do DizCrição pra você procurar ler mais depois:
"Finalmente onde é que vamos parar?
O policial perguntou
- tá indo pra onde, boy?
-estou voltando, senhor!
foi preso por desacato

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Workshop Poesia como Start Criativo

Próxima semana estarei em Poços de Caldas trocando ideias sobre poesia, publicações e mais. Para informações completas, clique aqui


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ, Toda Via, (2015)

Obra de estréia de Michele Santos, divide-se em 5 capítulos - sobre a forma de conjunções adversativas: Entre/tanto, Com/tudo, A/pesar, Em/bora e Mas. Não por acaso, o livro é todo um emaranhado dramático d'um Eu Contradição.
Estética de miolos e torniquetes.
Vezes beirando o monossilabismo; outras com fôlego de Phelps. Nunca à toa. Aliás, há muito calcanhar em sua poesia.
Repleto de sinais (literalmente), o livro parece buscar o máximo que uma palavra pode dizer. E assim vai repartindo, cortando, esmiuçando cada sílaba, cada artéria dos fonemas.
Enquanto a maioria dos poetas contemporâneos baseia sua produção em temas jornalescos, causas sociais e modismos em geral, Mi optou pela contramão - fazendo bandeira de suas próprias vísceras.
Sua palavra é um caso à parte - mesmo. Não por inventar o som. Mas por ressignificar a voz de todo dia.
O livro tem projeto gráfico e diagramação do phodao Mixel Nogueira. E ainda conta com apresentação da poesia Janaína Moitinho.
Ah. Vou dizer mais não. Vá ler e procurar saber. Deixo vocês com este pedacin:
"Poemas são estratégias de fuga para tudo que não domino
cinema iraniano, domingos,
saber a hora de parar,
você."
*
Enquanto reli o livro e escrevi esta mini resenha tomei duas cervejas e uma para tudo café e escutei as bandas:
Infra Áudio
Camila Brasil
Vespas Mandarinas
Lou Reed

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ: Outro dia de folia, 2012

O trabalho quixotesco de Eduardo Lacerda à frente da editora Patuá tem resultado prêmios, arengas, chás de beber, tretas e muita literatura. Muita. 
Mas no meio editorial pouca gente sabe que, além de publicar e valorizar inúmeros talentos, Edu escreve. E sua pena é rica em intertextualidade, assonâncias e uma certa ginga manca de Adoniran.
Versos quebrados fazem pensar em outras alternativas para os poemas. Como se houvesse outro jeito de ser. Uma festa sobre LPs de Alceu Valença e Nando Reis.
Descompassos e dribles que remetem ao panteão dos orixás, citações bíblicas e livrescas (no melhor sentido), palavrões e uma melancolia ancestral - já anunciada na capa.
Edição e projeto gráfico de admirar. Fique aqui com um trecho e procure saber:
"Perco amigos
como
quem perde
dentes.

Como
quem
mastiga,
perco amigos

(E também os guardo.
deitados sob o sono do travesseiro,
à espera
de impossíveis
fadas)

Como quem guarda dentes que perde.
Como quem dói a noite inteira.
Como quem
os devora.
(...)"

Enquanto reli o livro e escrevi esta mini resenha tomei café e depois uma cerveja e escutei os CDs:
EP solto, de James Bantu
Vai na fé, de João Sobral
Dozicabraba, Emicida, Beatnick e K'Salaam
Alquimia sonora, de Viegas

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

BOTE FÉ: QUASE (um livro para crianças), 2015

"A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo." Com esta citação de Manoel de Barros, o modelo-menino de Poços de Caldas, Daniel Viana, inaugura uma obra toda costurada por metalinguagens, desenhos-montagens e fantasia.
As ilustrações de Lígia Yamaguti dialogam e expandem a poesia. Como se houvesse cor para o silêncio...
Páginas em branco convidam o leitor a "aumentar" o livro. Fazem crer que livro é para brincar, de fato.
Como em seus trabalhos anteriores (100 contos por 10 contos trocados e Baseado em Causos Reais), Danie abusa da concisão, de parágrafos miúdos e lapidados.
Livro pra ler de uma sentada (tem menos de 50 páginas) e caminhar léguas com ele no coração.
Deixo o primeiro parágrafo de Quase aqui:
"Se um dia eu escrever
um livro para crianças,
ele será colorido
e de capa Duda.
Terá mais imagens que palavras."

Procure saber mais e leia gente viva. Ou não.
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Foto: Brisa de Souza

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para Brisa (2013)

(para Flávia Brito)
Prefiro você
a ser triste
pensei
nunca disse
mas escrevo.

Escrevo
e sou agora minha própria escrita
figura e linguagem
figura de linguagem
um velho pugilista
que sobe ao ringue com o pé quebrado
e na metade do primeiro assalto
depois da esquiva
um gancho e dois cruzados
preso às cordas
desacredita
– o único homem a ser desafiado.

Soul
o que sempre quis
dragão e lança
queda e dança
rei e réu
rio e rã
– Rá
retirante de mim.

Soul
método e desobediência
métodos de desobediência
um prisioneiro na solitária
que serra uma grade de aço por ano
e faz dum plano de fuga sua oração diária
coragem!
impulso que precede o passo
o salto
a rebelião.

Sua paz não é calma
sua paz não é ordem
é _ _ _ _ .

Soul
vício e devoção
um morto
que senta pra comer sua marmita simples
e ao abri-la
ao invés do arroz branco e puro de sempre
uma pedra
não sustenta
não dá forças
inspira.

Sem rodeios
rascunho
palavra e silêncio
palavra e _ _ _ _ _ _ _.

Na dúvida, sou um tal eu
sem pêsames nem parágrafos
sou para-quedas parapeitos
paradigmas para-lamas
parabéns paranoias
para-choques para-raios.

Para nada e para o que for preciso
sou para viagem e para brisa.

Entre o vazio de lábios e olhares perdidos
sinto que hoje ainda vale a ida
mas se nossa história não couber nos livros
acabo aqui esse poema e vou pra lida.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cruzando o Atlântico

 A revista portuguesa InComunidade publicou uma série de textos meus na sua edição 38. Só tem bambas. Clique aqui e leia.
(Gabriel Woelke)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ultrapassagens

Estava apagando e-mails e botando o computador em ordem quando encontrei alguns textos perdidos. Vou postar alguns deles na íntegra aqui. Este é de janeiro de 2012:
Hoje é praticamente impossível falar de arte independente sem mencionar o papel da internet, seja como ferramenta de produção ou divulgação.
Todo escritor quer ser lido, assim como todo músico quer que suas canções toquem no radio, quem faz cinema sonha em... Enfim, você já entendeu. De nada vale escrever os versos mais lindos do mundo e, por timidez, acomodação ou punhetagem mesmo, escondê-los no fundo da gaveta.
O narcisismo das redes sociais, a ligação entre artista e espectador é regida por velhas leis de mercado, como a da oferta e procura, da indústria da propaganda. Até aí nenhuma novidade.
O meio é tudo. Há léguas obscuras entre produzir e expor uma obra, conquistar um público e fazer sucesso. Sem cair na cilada da meritocracia, entre o “poder” e o “fazer” existe bem mais que as cinco máximas do jornalismo: o que, onde, como, quando, por que.
Estou cansado de ouvir pessoas que só sabem conjugar verbos no pretérito imperfeito: “se eu quisesse, poderia ter sido um jogador de futebol milionário”, “se eu quisesse, poderia ter ficado com aquela famosa”, e por aí vai. Não falta gente que se esconde nas promessas do “tem tudo para dar certo” e gasta o resto da vida se gabando do quase, que só não chegou lá porque não quis. Entre o “ter a faca e o queijo na mão” existe o movimento, o corte.
Indo contra a minha natureza de instintos retraídos, ultimamente tenho procurado grupos e seguido certas multidões. Tenho motivos de sobra para sempre ter desconfiado dos bandos e dos sujeitos que vivem (literalmente) de colecionar corações e arrebatar massas. Não é o ato de manipular e comover as pessoas em torno de um ideal - seja lá qual for - que me incomoda; me aflige os interesses, muitas vezes criminosos, que se escondem por trás de pastores vorazes em caçar ovelhas através de ideologias messiânicas demodês. Que fique explícito, não estou me referindo à questão religiosa, apenas.
Quando falo de coletividade sempre lembro de "Antes do Amanhecer", filme no qual ouvi uma das falas mais esclarecedoras sobre a relação homem/Deus, mas que também pode ser usada para entender o amor, a amizade, as Artes e tantas outras relações humanas. Foi algo como: "Deus não está em mim, nem em você; Ele só pode estar aqui, exatamente nesse espaço que existe entre a gente". Taí.
Claro que “o outro” não deve se tornar o único passaporte para a felicidade. Todos precisamos de um certo isolamento, de momentos de introspecção e isolamento (alguns em doses maiores que outros). Autonomia, independência e senso-crítico são virtudes.
Por melhor que alguém seja, a sua grandiosidade só poderá ser reconhecida e valorizada se houver um “outro” para apreciar ou mesmo competir. Além dos relacionamentos afetivos, esse processo também pode ser aplicado facilmente às Artes, ao ambiente corporativo e a todos os relacionamentos humanos. Ou não?
(Márcio Salata)


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

domingo, 16 de agosto de 2015

Domingo

Hoje foi lançado o vídeo-poema Domingo. Orgulho de ter produzido algo tão íntimo e peculiar. Clique aqui e assista e passe adiante e comente e. Ou se quiser ouvir, Aqui.


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ERA UMA VEZ HORIZONTE

Comunico minha saída do Sobrenome Liberdade. O motivo é estritamente ideológico. O sarau seguirá com os demais integrantes. 
Foram mais de 3 anos de entrega, aprendizados e trocas. Lembro como fosse já. A independência sempre foi prática - em tudo! 
Uma Antologia, 50 edições, um fanzine, exposições, viagens pockets shows... Incontáveis histórias.
Não sei mesmo medir o quão longe esse sonho chegou. Deixo uma parte grande do meu coração neste ponto. (e não há mesmo o que dizer; esse peso nos olhos já basta)
Sou grato a cada um dos amigos que acreditou e fez essa utopia ir além.
A gente se vê pelas esquinas, ocupações, outros saraus e onde mais for imprescindível. O sonho apenas começou!
#Coragem


terça-feira, 7 de julho de 2015

Para outra parede

Mendigos, degustadores de sorvete, alpinistas, nadadores em geral...
sei que todo mundo sofre nesse frio.
Mas 
olhe aqui
não existe cobertor capaz de aquecer o meninin que habita este corpo

além de teu hálito.
*
Chovendo pesado madrugada toda.
Acordei e peguei mais uma coberta. 
Vi nesse gesto um luxo, 

mas preferia teu vulcão, ainda que adormecido, aqui.
*
Use o frio a seu favor:
Leia algo para alguém como quem conta um milagre a uma velha viúva sueca.


Ouse!
O frio está a seu favor:
Descubra quantas calorias a pessoa querida tem.

Ou se o frio continuar contra você:
Ande de mãos dadas com alguém - nem que seja por um metro, 2 segundos, 19 voltas, 15 nãos... 
*
Salário < Ração
Ausência < Frio
Socorro < Pedido
Memória < Sonhos
[das comparações sem igual]

(Sarau ComplexCidade - Indaiatuba-SP)


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Desamarrando cadarços e umbigos

Hoje faz exatamente 2 anos que abri mão de um emprego estável numa grande seguradora para tentar viver das coisas que acredito.
Não ganhava muito, mas é quase o dobro do que recebo hoje dando aula e revisando textos.
Mudanças mil: redução de gastos, outros hábitos... No entanto, ganhei mais tempo pra mim e para estar perto de quem amo. Ganhei minha alma de volta. Às segundas, por exemplo, é sagrado ver e brincar com a Flora antes dela ir à escola. Visitar (amiúde) o Bento ainda é uma missão difícil...
Naquele dia, quando saí da Allianz Seguros, não tinha um plano B, não tinha grana na poupança... Eu tinha a certeza que não tornaria a vender meu sangue e suor (que são a mesma coisa, afinal) para instituições que não boto fé.
A vida é curta ( todo mundo sabe). E tenho um sentimento que vou morrer antes dos 30. Sei lá. Trago um medo de passar pela vida sem conhecer as pessoas que amo. Ou de que elas não se dêem conta de que são os verbos da minha história. Não sou bem um cara exemplar, mas tô tentando ser alguém digno das pessoas que cultivo.
Vida, gratidão por ter me permitido chegar até aqui.


domingo, 7 de junho de 2015

Anemia

Domingo é dia de visita. Não de ficar. Aos domingos a gente não liga ou marca encontro com qualquer pessoa. Existe um pacto silencioso de intimidade absoluta nesse dia.
Domingo é uma ocasião sagrada, que renova a poeira e uma solidão desgraçada de vulgar.
Domingo é gangorra de um banco só.
Religiões provando o contrário.
Domingo é convite sem destinatário.
Roda gigante sem eixo.
Paradoxo de si mesmo.
às vezes o domingo não passa de jeito nenhum. Fica passeando a semana toda em tudo que nos falta.
Ressaca mista de água benta e ácido na veia do mamilo superior.
Peso ancestral remodelando os ossos.
Precisão de seis noites com 24h de madrugada na porta da frente. 
Domingo tem cara de fim de ano: a vida fecha pra balanço, considerações gastas, encontros funcionais, remorsos planejados e comidas demodês.
Domingo é... Dane-se! 
A visita acabou. Ninguém nunca fica.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sem etiqueta rascunho

Quando o povo descobrir o poder que tem
Toda mulher e homem será rainha e rei.

*
Pugilistas, Poetas, Passarinhos...
morrem quando domesticados.
Há espécies cuja existência depende da insubordinação.

*
quero guardar a lembrança única
daquele instante antes da fotografia
quando éramos todos rascunhos de imagem
e olhos abertos.

quero guardar a lembrança exclusiva
daquele segundo quando nos conhecemos
quando éramos todos experientes e virgens
de dormir ao mesmo tempo.
quero guardar a lembrança daquela canção sem jabá
que tocava (quase) apenas nos nossos fones
quando éramos todos consumo sem serasa nem spc
nem cobrança de "me liga quando chegar"

dois segundos

Sem fim continua
essa vontade minha
que é só tua.
Sem acabamento permanece 
esse querer enorme
e que só cresce.
E
Não tarde
Que as madrugadas têm forma de infinito
Sem você pra reviver.



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Cobertor para peixes

Tanto café da manhã sozinho
deixou meu coração encardido
vazio
Tantos embarques para destinos desconhecidos
viciaram meus olhos nas nuvens
minha alma no porão
dores em silêncio
[Pera...
Pugilista virgem assalta maternidade rural
Coiotes estampam o novo uniforme da onu
e
todos esses absurdos decorativos me fazem botar fé
que a vida é toda por um fio
e que estamos jogando fora esse nosso último hoje]
Desculpe não saber falar de amor como seu rock star predileto.
Da próxima vez
venha antes que o poema seque.
Educar é fazer as perguntas certas
para quem nunca teve qualquer certeza.
Com quem você está agora?
Um rio anônimo de peixes
Uma mão incapaz de abrir-se
Uma nota 10 sem aluno
não são mais ímpares que meu coração sem teu peito.
Excessos de porres, erros, atrasos
desculpas, improvisos, agressões e tals
fizeram companhia à minha solidão
mais única
Quando tudo parecia afogado
foi dum carinho que veio o levante
palavrões de ordem sem bandeira
cúmplice, cartaz ou cócegas
- só de olhar eu soube sempre -
a gente é o que bem.






sexta-feira, 10 de abril de 2015

Agenda Abril

11/4 - 15h
Intervenção poética Sobrenome Liberdade + Coletivo PI (Grajaú - São Paulo-SP)
Mais informações aqui

13/4 – 14h
Oficina de criação poética e no sarau na ONG Centro de Convivência São Vicente de Paulo (Campinas–SP)
19h
Intervenção e audição na Parada Poética (Nova Odessa - SP)
Informações aqui

14/4 - 20h
Sarau Suburbano Convicto (Bixiga, São Paulo-SP)
Informações aqui: http://buzo10.blogspot.com.br/

15/4 - 21h
Sarau do Vinil (Vila Joaniza, São Paulo-SP)

17/4 - 23h
Lançamento do livro "Se eu tivesse meu próprio dicionário" no sarau da Madrugada.
Informações aqui: https://www.facebook.com/profile.php?id=100008276049860

18/4
16h - Performance Clube Atlético Passarinhos no Rachão Poético - SESC Osasco
21h - Intervenção "Transforme sua cidade" com Sobrenome Liberdade e Coletivo Pi - Moóca - SP

22/4 - 17h
Oficina de criação de micro narrativas no CEU três pontas (Ermelino Matarazzo, São Paulo-SP)

28 e 29/4
Flipoços (Poços de cladas-MG)
Informações aqui

(Marcio Salata)







quinta-feira, 2 de abril de 2015

Haverá (Em espanhol)

Sea en el asfalto o en la basura,
En la mierda o en los corazones,
Las flores no dejan de nascer.
Pasen lejos los facistas incendiários de barrios
Caigan afuera los políticos prestamistas de la esperanza
Una flor nació en mi.
fuera adentro un ramo,
en un buque,
o en otras manos
- seria cadáver.
Pero en el asfalto y en la basura,
En la mierda y en estes corazones,
és estrella, floresta, bandera
puerta-luz, fiesta, alimento y atropello.
Una flor nasció,
Y a partir de ahí, tenemos alguna oportunidad.
Despierten los ninõs y niñas,
podemos soñar otra vez
Habrá amanecer.
La primavera prevalece.

(do livro Para Brisa - Tradução: Débora Antoniazi Del Guerra)


quinta-feira, 26 de março de 2015

Era verão até você

de nascença
trouxeste 1 marca
passos [destes que movem bicicletas, canoas, girassois e afins]
e 3 asas canhotas

bem além de dnas, distrações e finitudes
dois exílios em um corpo

solitárias consoantes são suas avós, viu?

volto para casa
[meu segundo lá]
desde que você

célebres desconhecidos são nossos irmãos

casais de preto
cantarolavam refrões de antigos pagodes
em frente à galeria do rock
[marcando a notícia de sua gravidade]
e eu jazia pernambuco em são paulo
quando
então
um quarto de corpos depois
entredentes
adivinho
[conciso canino sentido]
partituras só de olhar

quando a dúvida quis te tornar quase
da vida fizeste um estilo de luta:
amor-de-dar

já ultrapassei anos inteiros sem encontrar um dezembro
[sequer]
superei semanas sem sábados no final 
[quiçá]
distorci templos e nenhuma esperança reagiu 

[deveras]
liguei sex pistols, mas foi Cartola quem deu a letra 

[distopias]
aí hoje, 

o dia mais distante,
descobri uma casa andante com nome de filho-bento-eterno-aleluia


e é assim
ordens para desobedecer a paz
guerra dando luz às estrelas
floretas tramando contra fotografias de metais
água perfurando rompendo extravazando caixas
enquanto mamãe tenta te ensinar nado sincronizado
no meio do atlântico

Era verão até você,


(do álbum de família)

segunda-feira, 16 de março de 2015

Hoje tem Ninguém Lê

O Ninguém lê chega à sua 16ª edição de casa nova e remando em novas direções. Dessa vez o Tratado estará na roda. Chegue lá e vamos discutir nosso tempo!


segunda-feira, 9 de março de 2015

Por onde a poesia vai

Eu e meu mano Victor Rodrigues acabamos de lançar uma série de camisetas em parceria com a Poeme-se. São estampas com nossos poemas curtos mais conhecidos e toda qualidade e tradição da marca carioca. Coisa de primeira. Quem quiser comprar só chegar na gente nos saraus por aí (faremos alguns lançamentos) ou então no site. Comprando a camiseta na nossa mão, leva o livro que tem o texto. Temos modelos padrão t-shirt e baby look, em tamanhos de P a XXG, saindo por 58 dinheiros cada. Confere o link abaixo aí e bora vestir o mundo de poesia!
http://www.poemese.com/167-ni-brisant/p



Parada Poética - Aniversário

Hoje estarei na celebração do 2º aniversário da Parada Poética. Uma alegria braba! Farei uma intervenção com os Passarinheiros (Victor Rodrigues e Luiza Romão). Para mais infos, clique aqui.


quarta-feira, 4 de março de 2015

Prefácio do livro Escritório de Pensamentos

A história dos homens ganha agora uma nova exceção. Tatuador de histórias em árvores, Mano Ril sabe o valor do seu papel. Caneta canivete. Não desperdiça letra nem golpe. Se a selva é real, ele é bem mais. Artista do concreto.
Sua palavra não busca perfeição. O alvo é a paralisia. E Ril dispara contra as sombras e vai. Não voa nem precisa. Diga, quem poderá deter o canto desse meu irmão?
Sob o corpo de homem franzino estão guardados o filho, o pai, o menino e todas as utopias que o céu suportar. 
Pouca esperança. Menos promessas. Seus sonhos conhecem a urgência destes dias. Atitude. Há pressa. Mas ele não cai na cilada fácil. É preciso abraçar os nossos.
Escritório de Pensamentos já nasce grande de parto humanizado. Em tempo. Com fome de espaços, amigos e novidades. Seu umbigo é o mundo. Sua vida esta nas ruas, nas veias de cada guerreiro.
Há tensão! Greve geral contra a maldade. Férias perpétuas o ócio. Aqui a labuta é boa. 
Habite-se!
- Ni Brisant​



Lançamento em Jundiaí

Próximo sábado estarei em Jundiaí com meu amigo escritor Gerson Salvador lançando nossos livros e fazendo poesia no Maxi Shopping Jundiaí, a partir das 14h30. As 5 primeiras pessoas a comparem meu livro ganharão um microconto (inédito e exclusivo - feito na hora) com seus respectivos nomes.
Chegue junto!
Mais informações aqui: https://www.facebook.com/?q=#/profile.php?id=1401436056831053&ref=ts&fref=ts




domingo, 22 de fevereiro de 2015

Aos amigos da Zona Sul de SP

A partir do dia 24/2 iniciarei as aulas do curso de Empreendedorismo Social. Se conhece alguém (entre 15 e 17 anos) que more na região do Jardim Ângela chamae. O curso é profissionalizante, dura 8 meses e tem como referência os princípios da edução informal, pedagogia freiriana e muitas práticas de voos. Vai ser lindimais!

INSCRIÇÃO E CURSO GRÁTIS!
Aulas às terças e quintas, das 8h30 às 11h30 ou 13h30 às 16h30.

Local: Centro Para Juventude Ranieri
Endereço: Rua Seringal do Rio Verde, 41 - Jardim Ranieri (Zona Sul)
Telefone: (11) 58343062

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

considerações para meu ontem

uma hora (cedo ou tarde) a vida cansa de bater. e aí a gente decide se usa esse intervalo para reclamar, vingar-se, lastimar ou tentar ser feliz.
tô tentando, amor.
*
devo dizer sem risco de engano
que
os inimigos que conquistei até agora
são mais frutos das alegrias que cultivei
que 
dos pecados que cometi.
*
a morte nunca é opção até torna-se ordem.

(Marcio Salata)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

peito material de hamburguer

a constante crise na rússia
o eterno atraso dos cavaleiros do apocalipse 
o movimento elástico do dólar 
acidentes na hora do vai ou racha
só provam que o mundo imita a gente.

até agora
o retrato com seu novo amor tem 533 compartilhamentos
minhas amigas comentaram adjetivos bárbaros e demodês
e na maior sinceridade dei like 
e gastei uns minutos investigando seus olhos
e achei bonito mesmo
de doer
senti um remorso por não ter reparado antes essa sua pinta na orelha.

falo sobre jardinagem, tarô, muai thai, metalinguística
folclore, cocada, delacroix e fernanda takai
mas o assunto é sempre a gente
aliás.

É possível avistar horizontes olhando pra baixo?

agora sei não
olhando do céu
alguém avista
estrelas no chão.


bonito mesmo
de doer.

meu amor,
pare exatamente aonde está.
sua felicidade não me cabe.


(Cintia Santos)